James Webb encontra radiação misteriosa em estrelas bebês e intriga astrônomos

Radiação ultravioleta inesperada envolve protoestrelas jovens em Ofiúco (Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI)
Radiação ultravioleta inesperada envolve protoestrelas jovens em Ofiúco (Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI)

A formação de uma estrela costuma seguir um roteiro bem estabelecido, mas novas observações do Telescópio Espacial James Webb acabam de desafiar essa narrativa. Dados recentes colhidos na região de formação estelar de Ofiúco, a apenas 450 anos-luz da Terra, revelaram algo totalmente inesperado: uma camada de radiação ultravioleta (UV) de alta energia envolvendo cinco protoestrelas em pleno desenvolvimento. O fenômeno, publicado na Astronomy & Astrophysics, sugere que essas estrelas jovens podem estar emitindo tipos de radiação que, teoricamente, não deveriam ser capazes de produzir.

Logo após essa surpresa, surgem alguns pontos essenciais para compreender o impacto da descoberta:

  • A radiação UV aparece sistematicamente ao redor das cinco protoestrelas observadas;
  • O padrão não se explica pela presença de estrelas vizinhas mais quentes;
  • Os dados indicam claramente uma origem interna e inesperada da radiação;
  • Choques altamente energéticos parecem ser os principais suspeitos;
  • O hidrogênio molecular “denuncia” o UV ao brilhar de forma característica no infravermelho.

Quando o nascimento de uma estrela foge das regras

Protoestrelas são objetos ainda em formação, envoltos por densas camadas de poeira e gás. Esse material, ao cair sobre o objeto central ou ao ser expelido em jatos, cria choques que aquecem o ambiente, fazendo o hidrogênio molecular emitir luz no infravermelho, faixa em que o Webb é extremamente sensível. Normalmente, é isso que os astronomia esperam ver.

Webb revela UV misterioso que desafia modelos clássicos de formação estelar (Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI)
Webb revela UV misterioso que desafia modelos clássicos de formação estelar (Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI)

Entretanto, Ofiúco também abriga estrelas jovens do tipo B, famosas pela forte radiação UV. Inicialmente, parecia lógico supor que o brilho ultravioleta visto perto das protoestrelas estivesse vindo dessas vizinhas massivas. Porém, ao comparar objetos posicionados em diferentes distâncias e simular como a poeira deveria absorver e reemitir essa luz, os cientistas identificaram um padrão que contradizia completamente essa hipótese.

As assinaturas moleculares eram praticamente iguais em todas as protoestrelas. Se a radiação viesse de fora, haveria diferenças claras. Como isso não acontece, o cenário muda radicalmente: a radiação precisa ser gerada pelas próprias protoestrelas, mesmo que os modelos atuais afirmem que esse tipo de emissão não deveria existir tão cedo na vida estelar.

O que pode estar produzindo essa radiação?

Os pesquisadores, incluindo Iason Skretas e Agata Karska, sugerem que choques extremamente energéticos, seja na queda de material, seja ao longo dos jatos, podem liberar UV suficiente para explicar o fenômeno. A equipe continuará investigando poeira e gelo interestelar em Ofiúco para entender como essa radiação molda o ambiente inicial onde planetas, moléculas complexas e até ingredientes da vida começam a surgir.

A descoberta abre espaço para uma revisão profunda dos modelos de formação estelar e reforça o papel do James Webb como um observatório capaz de revelar detalhes invisíveis até então.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.