James Webb captura estrutura cósmica assustadora formada por estrelas quase extintas

Webb revela espirais de poeira criadas por estrelas raras e instáveis. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Webb revela espirais de poeira criadas por estrelas raras e instáveis. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O Telescópio Espacial James Webb voltou a surpreender ao revelar detalhes minuciosos de um dos sistemas mais raros e intensos da Via Láctea. As novas imagens mostram estruturas espirais de poeira formadas por um trio de estrelas em interação violenta, conhecido como Apep, um arranjo celeste tão instável que parece registrar, em camadas concêntricas, os últimos séculos de atividade estelar turbulenta. O sistema ganhou destaque por abrigar dois astros extremamente incomuns, cuja presença conjunta já seria extraordinária mesmo em galáxias maiores.

Logo de início, a imagem impressiona pela complexidade e pelas formas simétricas criadas pela poeira expelida ao longo do tempo. Essas estruturas revelam comportamentos difíceis de observar em sistemas tão distantes e oferecem pistas sobre processos físicos que antecedem eventos explosivos.

  • Estrelas Wolf-Rayet raras e altamente instáveis;
  • Expulsão de poeira rica em carbono em intervalos regulares;
  • Estruturas espirais registrando séculos de atividade;
  • Sistema triplo com fortes interações gravitacionais;
  • Potencial para gerar supernovas e rajadas de raios gama.

Onde o caos cósmico se organiza em padrões

O ponto central do fenômeno está nas duas estrelas Wolf-Rayet, conhecidas por sua massa elevada, ventos intensos e curta expectativa de vida. A cada aproximação orbital, suas interações criam densos aglomerados de poeira que se projetam para o espaço, formando “braços” que se expandem como anéis sucessivos. Estudos publicados no The Astrophysical Journal, conduzidos por Yinuo Han e Ryan White, indicam que cada camada representa cerca de 25 anos de atividade, enquanto a órbita completa leva quase dois séculos.

Sistema Apep exibe dança cósmica antes de explosões estelares fatais. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Sistema Apep exibe dança cósmica antes de explosões estelares fatais. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Além disso, a observação detalhada no infravermelho médio permitiu identificar não apenas as espirais internas, mas também conchas externas que registram mais de 700 anos de encontros entre os ventos estelares. Essa precisão só foi possível devido à sensibilidade do Webb, capaz de enxergar poeira muito fria e dispersa.

O papel da terceira estrela e o futuro sombrio do sistema

Complementando a complexidade do Apep, uma supergigante massiva atua como terceira integrante, moldando parte da poeira ao seu redor e criando regiões que lembram cavidades ou funis interestelares. Essa influência gravitacional adiciona novas camadas à dinâmica do sistema, tornando-o um dos laboratórios naturais mais valiosos para entender os estágios finais de estrelas de grande massa.

O destino, porém, não é menos dramático: as três estrelas devem terminar suas vidas como supernovas, e as duas Wolf-Rayet podem originar rajadas de raios gama, entre os eventos mais energéticos do universo. No longo prazo, o local pode se transformar em um verdadeiro cemitério espacial, onde buracos negros e remanescentes compactos orbitam em silêncio após séculos de caos.

As imagens do Webb não apenas revelam uma beleza rara, mas também ajudam a compreender como sistemas massivos evoluem até o colapso final. Apep demonstra que até mesmo o caos pode seguir padrões, registrando em poeira a história de estrelas que estão prestes a desaparecer em explosões espetaculares.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.