A alimentação nas missões espaciais é um dos maiores desafios da exploração de longa duração. Afinal, como sustentar astronautas em viagens que podem durar meses, ou até anos, fora da Terra? A resposta pode vir de uma fonte inesperada: os insetos.
Esses pequenos animais já demonstraram uma incrível capacidade de adaptação à microgravidade, o que despertou o interesse de cientistas europeus. Eles acreditam que insetos podem ser a chave para um sistema alimentar mais sustentável e eficiente no espaço.
Entre os principais motivos que colocam os insetos no radar das agências espaciais estão:
- Alta densidade nutricional, com proteínas e minerais comparáveis à carne;
- Baixa demanda por recursos, consumindo menos água e energia;
- Capacidade de reprodução rápida, garantindo oferta contínua;
- Conversão eficiente de resíduos em biomassa útil;
- Tolerância à microgravidade e radiação, confirmada em diversos testes.
Das formigas aos grilos espaciais
O interesse pelos insetos não é novo. Desde a década de 1940, espécies como moscas-das-frutas, formigas e abelhões têm sido enviadas ao espaço para estudar seu comportamento em microgravidade. Os resultados mostram que, mesmo em ambientes extremos, muitos desses organismos completam o ciclo de vida normalmente.

Um dos experimentos mais conhecidos foi o da mosca-da-fruta, primeiro ser vivo a retornar com vida do espaço, em 1947. Desde então, ela se tornou um modelo para estudar fisiologia, reprodução e desenvolvimento em condições orbitais. Outras espécies, como tardígrados e formigas, também demonstraram resistência impressionante à radiação e à ausência de gravidade.
Nutrição sustentável para o futuro espacial
Além da resistência, os insetos oferecem uma composição nutricional que chama a atenção: são ricos em proteínas, ferro, zinco e vitaminas do complexo B. Em alguns casos, o valor nutritivo é superior ao da carne bovina e do peixe.
Espécies como o grilo doméstico e o tenébrio-amarelo já foram aprovadas para consumo humano pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos. Na Terra, a farinha de grilo é usada na produção de pães, massas e barras de cereal, o que demonstra o potencial de adaptação desse alimento às dietas modernas e, futuramente, espaciais.
O próximo passo é entender o impacto da microgravidade
Apesar dos resultados promissores, os cientistas ainda precisam compreender como a ausência prolongada de gravidade influencia o metabolismo e o ciclo reprodutivo dos insetos. Muitos estudos anteriores foram de curta duração, o que limita a observação completa.
Agora, novas missões da Agência Espacial Europeia (ESA) buscam testar espécies que consigam completar todas as etapas de desenvolvimento em órbita. Se bem-sucedidas, essas pesquisas podem consolidar os insetos como a base de um ecossistema alimentar fechado, capaz de sustentar astronautas em futuras viagens para Marte ou além.

