IA mapeia 300 mil horas de sons para salvar mamíferos australianos

IA mapeia sons de mamíferos e revoluciona conservação australiana. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
IA mapeia sons de mamíferos e revoluciona conservação australiana. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O monitoramento da vida selvagem tradicional enfrenta obstáculos consideráveis, sobretudo em regiões remotas e biodiversas, como o leste da Austrália. Métodos convencionais, como armadilhas fotográficas e contagens de campo, são demorados, caros e muitas vezes incapazes de captar toda a atividade animal. Frente a esses desafios, pesquisadores agora recorrem à inteligência artificial (IA) para analisar centenas de milhares de horas de gravações acústicas de mamíferos, criando uma ferramenta inédita para a conservação ambiental.

Com essa tecnologia, tornou-se possível processar e interpretar volumes enormes de dados sonoros, permitindo mapear presença, comportamento e padrões de vocalização de espécies que antes eram difíceis de estudar.

  • Mais de 300 mil horas de gravações analisadas;
  • Cobertura completa de Queensland ao sul da Nova Gales do Sul;
  • Sistema BirdNET AI adaptado de aves para mamíferos vocais;
  • Monitoramento de longo prazo sem necessidade de intervenções físicas;
  • Redirecionamento de esforços para espécies silenciosas ou pouco conhecidas.

Como a IA redefine o estudo de mamíferos vocais

O estudo utilizou software de aprendizado de máquina originalmente desenvolvido para aves, mostrando que a tecnologia pode ser adaptada para mamíferos vocalizantes. Basta fornecer um exemplo de vocalização, por exemplo, o chamado de um coala macho, e o sistema identifica sons semelhantes ao longo de anos de gravações.

Monitoramento acústico identifica espécies e protege vida selvagem. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Monitoramento acústico identifica espécies e protege vida selvagem. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Esse método permite detectar padrões espaciais e temporais de atividade, oferecendo informações valiosas sobre hábitos sazonais, períodos de acasalamento e zonas de maior concentração de espécies. A escala e a precisão do monitoramento superam amplamente os métodos tradicionais, que não conseguem acompanhar longos períodos em grandes áreas.

Impactos práticos para conservação

Com o mapeamento acústico, gestores ambientais podem planejar ações de proteção mais eficazes, direcionando recursos para períodos críticos de reprodução ou migração. Além disso, espécies menos vocais podem receber atenção diferenciada, enquanto aquelas mais sonoras são monitoradas automaticamente, tornando a conservação mais eficiente e menos invasiva.

A análise detalhada também permite identificar regiões com maior densidade de espécies, monitorar mudanças na população ao longo do tempo e antecipar riscos ecológicos, como impactos climáticos ou pressões humanas.

Perspectivas futuras com IA monitorando vocalizações de mamíferos australianos

Os pesquisadores planejam criar um sistema de reconhecimento acústico especializado, treinado exclusivamente com vocalizações de mamíferos australianos, aumentando a precisão na detecção e monitoramento.

Essa inovação promete revolucionar a conservação, fornecendo dados robustos e contínuos para proteger espécies ameaçadas e entender melhor seus comportamentos naturais.A integração de tecnologia de ponta e ciência da conservação representa um passo decisivo para garantir a proteção da megafauna australiana, permitindo ações rápidas, precisas e baseadas em dados confiáveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.