Uma nova linha de pesquisa tem chamado atenção da comunidade científica ao revelar o potencial neuroprotetor dos hormônios da gravidez no tratamento da esclerose múltipla progressiva (EM), a forma mais agressiva e debilitante da doença.
O estudo, publicado no Journal of Neuroimmunology por pesquisadores da Universidade Texas A&M, sugere que os hormônios estradiol e estriol, ambos formas de estrogênio, podem reduzir a inflamação e preservar as fibras nervosas danificadas pelo avanço da enfermidade.
O papel dos estrogênios na proteção neural

A esclerose múltipla ocorre quando o sistema imunológico ataca a bainha de mielina, estrutura que recobre os neurônios e garante a condução adequada dos impulsos elétricos. Sem essa proteção, surgem sintomas como fadiga, perda de equilíbrio, dormência e dificuldades motoras, especialmente intensos nas formas progressivas da doença.
O estudo observou que altos níveis de estrogênio, semelhantes aos que ocorrem durante a gravidez, diminuem a inflamação na medula espinhal e reduzem os danos à mielina. Essa descoberta ajuda a explicar por que muitas mulheres com EM apresentam melhora dos sintomas durante a gestação, quando os níveis hormonais atingem o pico natural.
Estradiol: o hormônio com maior efeito protetor
Embora tanto o estradiol quanto o estriol tenham demonstrado benefícios, o estradiol apresentou maior capacidade de preservar a bainha de mielina, o que pode retardar a progressão da doença. Esse hormônio, amplamente usado em terapias de reposição hormonal, mostrou um impacto significativo na proteção das conexões neurais em modelos experimentais da EM.
O estriol, por sua vez, também reduziu a inflamação, mas com efeito menos expressivo sobre a mielina. Ainda assim, sua segurança e uso clínico já estabelecido tornam-no uma opção promissora para futuras pesquisas.
Novas perspectivas terapêuticas
A descoberta reforça o potencial de terapias hormonais combinadas com os tratamentos já existentes para a EM, especialmente nas formas progressivas, que ainda carecem de opções eficazes. Entre os possíveis benefícios dessa abordagem estão:
- Redução da inflamação crônica na medula espinhal;
- Proteção das fibras nervosas contra danos irreversíveis;
- Melhora da comunicação entre os neurônios, preservando funções motoras;
- Diminuição da frequência de recaídas em mulheres com EM.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores ressaltam que mais estudos clínicos são necessários para comprovar a segurança e eficácia do uso terapêutico desses hormônios em humanos.
Caminho promissor contra a forma mais grave da EM
A esclerose múltipla progressiva continua sendo um grande desafio neurológico, afetando milhares de pessoas no mundo todo. No entanto, a relação entre gravidez, estrogênio e proteção neural pode abrir uma nova era de tratamentos menos invasivos e mais direcionados às causas inflamatórias e degenerativas da doença.
À medida que novas evidências surgem, cresce a esperança de que a biologia feminina ajude a inspirar terapias inovadoras para conter uma das condições neurológicas mais desafiadoras da atualidade.