Fungo da Amazônia é capaz de comer plástico e pode revolucionar a biotecnologia ambiental

Fungo amazônico consegue degradar plástico mesmo sem oxigênio. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Fungo amazônico consegue degradar plástico mesmo sem oxigênio. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O excesso de resíduos plásticos é um dos maiores desafios ambientais do século XXI. Em um avanço surpreendente, pesquisadores identificaram o Pestalotiopsis microspora, um fungo amazônico capaz de utilizar poliuretano como única fonte de carbono. Essa habilidade rara indica que processos naturais podem oferecer soluções eficientes para a degradação de materiais sintéticos altamente resistentes.

O estudo, conduzido em expedições ao Parque Nacional de Yasuni, no Equador, revelou que o fungo mantém sua atividade mesmo em condições anaeróbicas, tornando-o ideal para ambientes onde a decomposição tradicional não ocorre, como aterros profundos. Principais características e vantagens do Pestalotiopsis microspora:

  • Produção de serina-hidrolases, enzimas capazes de quebrar longas cadeias de poliuretano;
  • Transformação do plástico em moléculas menores, convertidas em energia pelo fungo;
  • Capacidade de atuação sem oxigênio, expandindo seu uso em locais de difícil acesso;
  • Potencial para aumentar a velocidade de decomposição em até 20 vezes com substratos otimizados;
  • Possibilidade de integração em biofábricas e sistemas de tratamento de resíduos.

Como o fungo degrada o plástico?

Pestalotiopsis microspora transforma poliuretano em energia natural. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Pestalotiopsis microspora transforma poliuretano em energia natural. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O mecanismo enzimático do Pestalotiopsis microspora permite que ele ataque a estrutura complexa do poliuretano, transformando moléculas longas em fragmentos absorvíveis. Isso não apenas garante a nutrição do organismo, mas também reduz significativamente a persistência do plástico no ambiente.

Estudos laboratoriais indicam que, quando cultivado sob condições ideais, o fungo pode decompor materiais sintéticos mais rapidamente do que métodos químicos tradicionais. Apesar do potencial, a aplicação em larga escala requer atenção a diversos fatores:

  • Controle ambiental para manter a atividade enzimática constante;
  • Protocolos que evitem impactos ecológicos em ecossistemas locais;
  • Sistemas de cultivo contínuo e infraestrutura especializada;
  • Monitoramento de clima, umidade e competição microbiana, que podem afetar a eficiência.

Perspectivas para o futuro da biorremediação

Biotecnologia ambiental avança com fungo capaz de comer plástico. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Biotecnologia ambiental avança com fungo capaz de comer plástico. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

À medida que pesquisas avançam, soluções híbridas começam a surgir, combinando engenharia e biotecnologia. Algumas iniciativas incluem:

  • Estações de tratamento com módulos fúngicos incorporados;
  • Polímeros reformulados para facilitar a biodegradação natural;
  • Biofábricas produzindo enzimas isoladas do fungo para aplicações industriais.

Essas estratégias demonstram como organismos naturais podem oferecer alternativas sustentáveis para reduzir o acúmulo de plásticos e minimizar danos ambientais. O Pestalotiopsis microspora, portanto, representa não apenas uma descoberta científica, mas também um passo concreto rumo a ciclos de consumo mais circulares e responsáveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.