Fósseis de Wyoming permitem recriar dinossauro herbívoro com precisão surpreendente

Dinossauro herbívoro revela crista e espinhos únicos. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)
Dinossauro herbívoro revela crista e espinhos únicos. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)

Pesquisadores conseguiram recriar com precisão a aparência de um dos dinossauros herbívoros mais icônicos da América do Norte, o Edmontosaurus annectens, que viveu há cerca de 66 milhões de anos. 

A análise foi baseada em dois fósseis mumificados descobertos em Wyoming, Estados Unidos, que preservaram detalhes surpreendentes da pele e da anatomia externa.

A conservação excepcional dos espécimes ocorreu graças a um processo natural de mumificação, onde uma fina camada de argila envolveu os corpos após uma inundação.

Essa “máscara” de argila, com menos de um milímetro de espessura, permitiu que estruturas delicadas como escamas, rugas e placas ungueais fossem mantidas em três dimensões (3D). Surpreendentemente, não restaram tecidos orgânicos, mas a reprodução microscópica da pele abriu novas possibilidades para o estudo de fósseis semelhantes.

Preservação detalhada por técnicas avançadas

Máscara de argila protege textura da pele fóssil. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)
Máscara de argila protege textura da pele fóssil. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)

O estudo utilizou fotogrametria, que extrai informações tridimensionais a partir de fotografias, e tomografia computadorizada, permitindo visualizar estruturas internas sem manipular diretamente os fósseis. Esses métodos possibilitaram criar modelos digitais precisos, revelando características anatômicas antes inacessíveis, como:

  • Uma crista espessa ao longo do pescoço e das costas.
  • Espinhos que se estendem da coluna dorsal até a cauda.
  • Patas traseiras com cascos planos, semelhantes aos de cavalos, adaptadas para sustentação e locomoção.

Esses detalhes fornecem insights inéditos sobre a morfologia e o comportamento locomotor do Edmontosaurus, além de oferecer pistas sobre a função de cristas e espinhos em sua defesa ou comunicação visual.

Implicações para paleontologia e conservação de fósseis

Casco plano das patas traseiras é destaque anatômico. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)
Casco plano das patas traseiras é destaque anatômico. (Foto: Paul C. Sereno et al / Science)

A técnica de mumificação natural com argila demonstra como fósseis podem preservar informações antes consideradas impossíveis de obter, especialmente tecidos moles e superfícies cutâneas. Isso representa um avanço significativo para a paleontologia, permitindo:

  • Identificar características físicas de dinossauros de forma mais precisa.
  • Compreender como diferentes condições ambientais favorecem a preservação detalhada.
  • Aplicar métodos digitais avançados para reconstruções tridimensionais fiéis.

Além disso, esses achados fornecem um modelo para explorar sítios fósseis em outras regiões, potencialmente revelando espécies e espécimes com padrões de preservação similares.

A reconstrução do Edmontosaurus annectens mostra que o estudo de fósseis mumificados não apenas devolve a aparência de criaturas extintas, mas também amplia o conhecimento sobre a interação entre organismos e seus ambientes. 

A combinação de processos naturais e tecnologias digitais avançadas abre caminhos promissores para futuras descobertas na paleontologia, reforçando o valor científico de fósseis extraordinariamente preservados.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.