O voo é uma das conquistas mais impressionantes da evolução, e entender como surgiu exige olhar para além das asas. Estudos recentes mostram que pterossauros e aves desenvolveram adaptações neurológicas específicas que permitiram controlar movimentos complexos no ar.
A análise de moldes intracranianos de fósseis, realizada com microtomografia computadorizada, revelou que estruturas cerebrais críticas foram moldadas muito antes da chegada das aves modernas.
O estudo conduzido por Mario Bronzati e colaboradores, publicado na revista Current Biology, destaca convergências neuroanatômicas entre pterossauros e aves, evidenciando soluções evolutivas similares para o voo.
Cérebros globulares e visão aprimorada
Os pterossauros possuíam cérebros com formato globular, hemisférios expandidos e lobos ópticos desenvolvidos. Essas características eram essenciais para a navegação tridimensional, permitindo que enxergassem claramente durante o voo e capturassem presas com precisão. Diferentemente de aves, os pterossauros possuíam trato olfativo reduzido, indicando que a percepção visual era muito mais relevante que o olfato.
A região do cerebelo chamada flóculo mostrava desenvolvimento significativo, auxiliando no controle fino da cabeça e pescoço em resposta a estímulos sensoriais. Essa estrutura era fundamental para estabilizar a visão diante das vibrações provocadas pelo bater das asas membranosas.
Comparação com aves modernas

As aves, descendentes de dinossauros terópodes, apresentam cérebros maiores em relação ao corpo, mas compartilham com os pterossauros a expansão de áreas visuais e de coordenação motora.
Apesar das diferenças morfológicas nas asas, penas nas aves versus membranas nos pterossauros, ambos os grupos exibem adaptações cerebrais que facilitam o voo. Isso evidencia que a evolução do voo envolve não apenas mudanças anatômicas externas, mas também complexas transformações neuroanatômicas.
O papel dos ancestrais terrestres
Análises do lagerpetídeo Ixalerpeton polesinensis, ancestral dos pterossauros, indicam que hábitos tridimensionais, como subir em árvores, já exigiam cérebros capazes de processar informações visuais e motoras complexas.
Esse tipo de comportamento pré-voo pode ter estabelecido a base neurológica para a conquista do ar, mostrando que exigências ambientais moldaram o cérebro antes do desenvolvimento das asas voadoras.
Técnicas modernas revelam detalhes do passado
O uso de microtomografia computadorizada permitiu reconstruções tridimensionais precisas dos cérebros fósseis, preservando a integridade das estruturas.
Essa tecnologia, combinada com métodos quantitativos e qualitativos, possibilitou comparações detalhadas entre pterossauros, aves e ancestrais próximos, fornecendo uma visão mais clara da evolução cerebral associada ao voo.
Implicações da pesquisa
O estudo de Bronzati et al. mostra que a evolução do voo não depende apenas da anatomia das asas, mas também de adaptações cerebrais específicas. A convergência entre pterossauros e aves ilustra como diferentes linhagens podem desenvolver soluções semelhantes quando submetidas a desafios similares.
Com mais fósseis analisados, será possível compreender com maior precisão como o cérebro se moldou para controlar movimentos complexos e coordenar habilidades essenciais para o voo.

