Uma descoberta paleontológica no Catar trouxe à tona um peixe-boi em miniatura que permaneceu escondida por cerca de 21 milhões de anos. Apesar do tamanho reduzido, esse mamífero marinho extinto teve um papel essencial na formação e manutenção de pradarias marinhas no antigo Golfo Pérsico, desempenhando uma função ecológica semelhante à dos peixes-boi e dugongos modernos.
O achado foi descrito no estudo científico Alta abundância de peixes-boi do Mioceno Inferior no Catar demonstra a evolução repetida de engenheiros de ecossistemas de ervas marinhas no leste do Tétis, publicado em 2025 na revista PeerJ, tendo Nicholas D. Pyenson como autor principal.
O sítio fossilífero que mudou o entendimento da região
Os fósseis foram identificados em Al Maszhabiya, no sudoeste do Catar, um dos sítios mais ricos do mundo em ossos fossilizados de peixes-boi. Inicialmente confundidos com restos de répteis, os materiais revelaram uma concentração excepcional desses herbívoros marinhos do início do Mioceno.
As evidências geológicas indicam que a área já foi um ambiente marinho raso, com alta biodiversidade, incluindo tubarões, peixes ósseos, tartarugas e cetáceos primitivos. Nesse cenário, extensos campos de ervas marinhas sustentavam grandes populações desses mamíferos.
Uma nova espécie entra para a história

A análise detalhada dos fósseis levou à identificação de uma espécie inédita, denominada Salwasiren qatarensis. O nome faz referência à Baía de Salwa e ao Catar, país onde os fósseis foram encontrados.
Esse peixe-boi pré-histórico pesava aproximadamente 113 quilos, sendo consideravelmente menor que os atuais. Além disso, apresentava características anatômicas mais primitivas, como pequenos ossos nos membros posteriores e presas reduzidas, oferecendo pistas importantes sobre a evolução desses animais.
Engenheiros antigos das pradarias marinhas
Mesmo com porte modesto, a Salwasiren qatarensis teve papel ecológico relevante. Ao se alimentar de ervas marinhas e revolver o sedimento, ajudava a:
- Redistribuir nutrientes no fundo marinho
- Manter a vitalidade das pradarias subaquáticas
- Sustentar a biodiversidade costeira
Essas funções reforçam a ideia de que, ao longo do tempo, diferentes espécies ocuparam o mesmo papel ecológico no Golfo Pérsico.
O que o passado ensina sobre o futuro dos oceanos
O registro fóssil de Al Maszhabiya oferece informações valiosas sobre como os ecossistemas marinhos responderam a mudanças climáticas, variações no nível do mar e alterações de salinidade ao longo de milhões de anos. Esses dados são especialmente relevantes diante das ameaças atuais às pradarias marinhas e aos dugongos modernos.
Ao conectar passado e presente, a descoberta mostra que a relação entre o Golfo Pérsico e os peixes-boi é antiga, contínua e fundamental para compreender a resiliência dos ecossistemas costeiros.

