Filamento gigante em rotação revela um Universo muito mais organizado do que pensávamos

IA identifica sinais químicos que podem revelar vida antiga na Terra (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
IA identifica sinais químicos que podem revelar vida antiga na Terra (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Um achado astronômico recente expôs uma das dinâmicas mais intrigantes já observadas no cosmos: um filamento gigantesco, contendo centenas de galáxias, girando como uma engrenagem colosal. A descoberta, descrita no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, reacende debates sobre como as galáxias nascem, se alinham e ganham seu movimento de rotação.

Logo de início, o cenário impressiona: trata-se de uma estrutura com 50 milhões de anos-luz de extensão que funciona como um eixo cósmico em movimento contínuo. Para entender sua escala e complexidade, vale destacar:

  • Quase 300 galáxias conectadas por um mesmo filamento;
  • Uma “espinha dorsal” interna composta por 14 galáxias ricas em hidrogênio, alinhadas em bloco;
  • Um movimento rotacional estimado em 110 km/s, algo incomum em estruturas tão vastas.

Uma rotação que não deveria existir

Filamentos cósmicos são a base da chamada teia cósmica, a malha que estrutura o Universo em larga escala. Porém, ao contrário do que preveem os modelos atuais, o filamento estudado não está caótico, ele exibe ordem extrema.
As galáxias ao redor giram de forma coerente e muitas acompanham o próprio giro do filamento. Essa organização sugere que o ambiente é dinamicamente jovem, pouco perturbado e abundante em hidrogênio, o combustível primordial da formação de estrelas.

Rochas de bilhões de anos ganham nova análise com ajuda da IA (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Rochas de bilhões de anos ganham nova análise com ajuda da IA (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Essa combinação desafia previsões clássicas: o spin galáctico não deveria estar tão alinhado ao filamento, e muito menos apresentar sincronização de rotação. A coerência observada abre espaço para interpretações ligadas à Teoria do Torque de Maré, que descreve como forças gravitacionais assimétricas poderiam colocar protoestruturas inteiras em rotação.

Impactos para a cosmologia e observações futuras

A descoberta também levanta preocupações práticas. Modelos cosmológicos, especialmente os voltados para análises de lente gravitacional fraca, dependem de detectar pequenas distorções na luz das galáxias.
Entretanto, se muitas delas já nascem alinhadas ao filamento, esse padrão pode gerar sinais artificiais e interferir em medições essenciais para missões como Euclid e o Observatório Vera C. Rubin.

Em síntese, esse “carrossel cósmico” representa uma oportunidade única para entender como as galáxias adquirem sua rotação e para revisar modelos que, até então, não previam tamanha organização em grande escala.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.