Ferrugem em Marte pode ser o sinal mais promissor de vida fora da Terra

Ferrugem pode esconder bioassinaturas que revelam vida fora da Terra. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Ferrugem pode esconder bioassinaturas que revelam vida fora da Terra. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A ideia de que ferrugem possa revelar vida extraterrestre parece improvável à primeira vista. No entanto, para cientistas da Universidade de Tübingen, na Alemanha, esse fenômeno comum na Terra pode ser a chave para encontrar microrganismos em Marte e nas luas geladas do sistema solar. Segundo estudo publicado na revista Earth-Science Reviews, certas bactérias que metabolizam ferro deixam assinaturas químicas e estruturais únicas, capazes de resistir por bilhões de anos, exatamente o tipo de evidência que os exploradores espaciais buscam.

Essas bactérias, conhecidas como micro-organismos produtores de ferrugem, realizam processos que transformam o ferro em diferentes formas químicas enquanto obtêm energia. Isso cria depósitos minerais duradouros e de origem biológica, chamados minerais biogênicos de ferro. Principais pontos da pesquisa:

  • As bactérias que “respiram” ferro deixam marcas minerais detectáveis em rochas;
  • Essas estruturas podem resistir a condições extremas, como radiação e variações de temperatura;
  • Minerais biogênicos se formam em ambientes aquáticos, ideais para Marte e luas oceânicas;
  • Ferrugem de origem biológica difere claramente da ferrugem inorgânica;
  • O reconhecimento dessas assinaturas depende de instrumentos espaciais altamente sensíveis.

O ferro como motor invisível da vida

O ferro é um dos elementos mais abundantes do sistema solar e também um pilar da vida terrestre. Bactérias que oxidam ferro o utilizam como fonte de energia, enquanto outras o reduzem em seus processos metabólicos, semelhante ao modo como os seres humanos usam o oxigênio. Essas transformações estão intimamente ligadas aos ciclos do carbono e do nitrogênio, o que demonstra como a química do ferro sustenta ecossistemas complexos.

Micróbios que usam ferro podem deixar pistas duradouras em Marte. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Micróbios que usam ferro podem deixar pistas duradouras em Marte. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Na Terra, microrganismos que vivem em ambientes neutros formam estruturas microscópicas inconfundíveis, como hastes e filamentos retorcidos. Essas marcas se preservam em rochas e solos, funcionando como uma espécie de fóssil químico. Para a astrobiologia, isso significa que as mesmas formas poderiam ser encontradas em outros planetas e seriam praticamente indestrutíveis.

Marte e as luas oceânicas sob nova perspectiva

Marte, com sua coloração avermelhada, já exibe grandes quantidades de ferro oxidado. A presença passada de água líquida aumenta a possibilidade de que microrganismos metabolizadores de ferro tenham prosperado ali em algum momento. Se isso ocorreu, suas assinaturas minerais podem estar preservadas em sedimentos antigos, aguardando a análise de futuros rovers e sondas.

Já em Europa e Encélado, o interesse é voltado para os oceanos subterrâneos. Nessas luas, o contato entre a água e o interior rochoso pode liberar ferro dissolvido, um ambiente ideal para o surgimento de processos semelhantes aos observados na Terra. Missões futuras planejam examinar o material expelido pelos gêiseres gelados de Encélado em busca dessas bioassinaturas metálicas.

O que a ferrugem pode nos ensinar

Identificar minerais de ferro de origem biológica exigirá uma combinação de tecnologia avançada e compreensão profunda da geoquímica do ferro. Essa linha de pesquisa pode redefinir a forma como buscamos vida em outros mundos, mostrando que a química que sustenta a biosfera terrestre pode estar espalhada pelo sistema solar.

Se um dia for encontrada ferrugem biogênica fora da Terra, ela não será apenas um indício de vida antiga, será a prova de que a vida compartilha a mesma base química, onde quer que exista.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.