Febre infantil: o que mudou na orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria

Febre não é doença, mas sinal de defesa do corpo. (Foto: Getty Images via Canva)
Febre não é doença, mas sinal de defesa do corpo. (Foto: Getty Images via Canva)

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revisou recentemente a forma como a febre em crianças é definida. Até então, temperaturas iguais ou superiores a 37,8°C eram consideradas febre. 

Agora, a entidade adota 37,5°C axilar e 38°C oral ou retal como referência para diagnóstico. Essa atualização baseia-se em estudos internacionais e busca refletir melhor a fisiologia infantil, mas não indica automaticamente a necessidade de medicação ou ida ao pronto-socorro.

É fundamental compreender que a febre não é uma doença, mas uma resposta natural do organismo contra agentes infecciosos, como vírus e bactérias. O corpo ativa mecanismos de defesa, mobiliza o sistema imunológico e estimula a produção de anticorpos. Portanto, a febre é um indicativo de que o organismo está reagindo e se protegendo.

Combate à febrefobia

Nova definição ajuda a reduzir consultas desnecessárias. (Foto: Getty Images via Canva)
Nova definição ajuda a reduzir consultas desnecessárias. (Foto: Getty Images via Canva)

A ansiedade dos pais diante da febre é chamada de febrefobia, e é responsável por grande parte das consultas pediátricas. Estudos mostram que entre 20% e 30% das consultas têm a febre como sintoma principal, e até 75% dos atendimentos por telefone giram em torno do mesmo tema.

O objetivo da atualização da SBP é reduzir intervenções desnecessárias, permitindo que os pais entendam que nem toda elevação de temperatura exige remédios imediatos.

Quando utilizar antitérmicos

Não há uma temperatura que determine o uso de antitérmicos. A recomendação atual foca no desconforto da criança, e não no número no termômetro. Indicadores para considerar a medicação incluem:

  • Choro intenso ou irritabilidade
  • Redução da atividade ou apetite
  • Distúrbio do sono ou cansaço

No Brasil, os antitérmicos recomendados são: paracetamol, dipirona e ibuprofeno. O uso de ácido acetilsalicílico (AAS) é contraindicado devido ao risco de Síndrome de Reye. Também não se recomenda alternar ou associar medicamentos, pois isso aumenta o risco de superdosagem sem benefícios adicionais.

Sinais que exigem atenção imediata

Mesmo com febre baixa ou ausente, certos sintomas demandam avaliação médica urgente:

  • Vômitos ou diarreia intensos
  • Dificuldade respiratória ou baixa oxigenação
  • Manchas vermelhas na pele
  • Rigidez no pescoço ou dor de cabeça intensa
  • Apatia ou comportamento anormal da criança

Nesses casos, é fundamental procurar um pronto-socorro, independentemente da temperatura.

A nova classificação da SBP reforça que a febre é um mecanismo de defesa natural. Pais e cuidadores devem priorizar a observação do bem-estar da criança, identificando sinais de desconforto ou complicações, antes de medicar. Com informação correta, é possível reduzir consultas desnecessárias, evitar medicações inadequadas e promover cuidados mais seguros para os pequenos.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.