Detectar o Alzheimer antes que os sintomas apareçam é um dos grandes desafios da medicina moderna. Pesquisadores brasileiros desenvolveram um teste de sangue inovador capaz de identificar sinais da doença com mais de 90% de acerto.
Diferente dos métodos tradicionais, que exigem punção lombar ou exames de imagem caros, este exame abre caminho para diagnósticos rápidos, menos invasivos e mais acessíveis à população.
Como o exame identifica a doença

O estudo, realizado por pesquisadores da UFRGS, em colaboração com as universidades de Pittsburgh e Gotemburgo, buscou biomarcadores sanguíneos confiáveis que revelam alterações cerebrais típicas do Alzheimer. Biomarcadores são indicadores biológicos que mostram como o corpo está funcionando, permitindo diagnósticos mais precisos.
Após análise de mais de 30 mil resultados de 110 estudos internacionais, quatro proteínas foram selecionadas como principais suspeitas:
- Beta-amiloide 40 e 42
- p-tau217
- Neurofilamento de cadeia leve (NfL)
- Proteína ácida fibrilar glial (GFAP)
Essas proteínas foram medidas em 59 participantes, incluindo pessoas cognitivamente saudáveis, pacientes com Alzheimer e indivíduos com demência vascular. Para validar os resultados, os níveis sanguíneos foram comparados ao exame de líquor, considerado padrão-ouro pela OMS. Entre os quatro biomarcadores, a p-tau217 se destacou, atingindo mais de 90% de precisão na detecção da doença.
Por que esse avanço é importante
No Brasil, exames de sangue para Alzheimer existem, mas são caros e limitados à rede privada, chegando a R$ 3.600. Já métodos como punção lombar e tomografia exigem profissionais especializados e infraestrutura complexa, dificultando o uso em larga escala pelo SUS.
A nova abordagem tem potencial de:
- Facilitar o diagnóstico precoce;
- Reduzir procedimentos invasivos;
- Permitir rastreamento populacional de forma mais eficiente;
- Ampliar o acesso a regiões remotas ou carentes.
Próximos passos da pesquisa
A próxima fase incluirá 3 mil participantes em 10 cidades do Rio Grande do Sul, ao longo de dois anos, para verificar se o exame consegue identificar Alzheimer antes do surgimento dos sintomas.
Se bem-sucedido, há previsão de incorporação ao SUS até 2028, garantindo ampla cobertura nacional.
Impacto para a saúde pública
O diagnóstico precoce é crucial considerando que 57 milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de demência, e 60% apresentam Alzheimer.
No Brasil, estima-se que 1,8 milhão de pessoas já tenham a doença, podendo triplicar até 2050. Um teste de sangue confiável permite intervenção antecipada, melhora o planejamento de tratamentos e fortalece políticas de saúde pública.

