Exame de sangue brasileiro pode antecipar Alzheimer com alta precisão

Exame de sangue detecta Alzheimer com alta precisão. (Foto: Pexels via Canva)
Exame de sangue detecta Alzheimer com alta precisão. (Foto: Pexels via Canva)

Detectar o Alzheimer antes que os sintomas apareçam é um dos grandes desafios da medicina moderna. Pesquisadores brasileiros desenvolveram um teste de sangue inovador capaz de identificar sinais da doença com mais de 90% de acerto

Diferente dos métodos tradicionais, que exigem punção lombar ou exames de imagem caros, este exame abre caminho para diagnósticos rápidos, menos invasivos e mais acessíveis à população.

Como o exame identifica a doença

Teste nacional pode ampliar acesso ao diagnóstico no SUS. (Foto: Nenov Brothers via Canva)
Teste nacional pode ampliar acesso ao diagnóstico no SUS. (Foto: Nenov Brothers via Canva)

O estudo, realizado por pesquisadores da UFRGS, em colaboração com as universidades de Pittsburgh e Gotemburgo, buscou biomarcadores sanguíneos confiáveis que revelam alterações cerebrais típicas do Alzheimer. Biomarcadores são indicadores biológicos que mostram como o corpo está funcionando, permitindo diagnósticos mais precisos.

Após análise de mais de 30 mil resultados de 110 estudos internacionais, quatro proteínas foram selecionadas como principais suspeitas:

  • Beta-amiloide 40 e 42
  • p-tau217
  • Neurofilamento de cadeia leve (NfL)
  • Proteína ácida fibrilar glial (GFAP)

Essas proteínas foram medidas em 59 participantes, incluindo pessoas cognitivamente saudáveis, pacientes com Alzheimer e indivíduos com demência vascular. Para validar os resultados, os níveis sanguíneos foram comparados ao exame de líquor, considerado padrão-ouro pela OMS. Entre os quatro biomarcadores, a p-tau217 se destacou, atingindo mais de 90% de precisão na detecção da doença.

Por que esse avanço é importante

No Brasil, exames de sangue para Alzheimer existem, mas são caros e limitados à rede privada, chegando a R$ 3.600. Já métodos como punção lombar e tomografia exigem profissionais especializados e infraestrutura complexa, dificultando o uso em larga escala pelo SUS.

A nova abordagem tem potencial de:

  • Facilitar o diagnóstico precoce;
  • Reduzir procedimentos invasivos;
  • Permitir rastreamento populacional de forma mais eficiente;
  • Ampliar o acesso a regiões remotas ou carentes.

Próximos passos da pesquisa

A próxima fase incluirá 3 mil participantes em 10 cidades do Rio Grande do Sul, ao longo de dois anos, para verificar se o exame consegue identificar Alzheimer antes do surgimento dos sintomas

Se bem-sucedido, há previsão de incorporação ao SUS até 2028, garantindo ampla cobertura nacional.

Impacto para a saúde pública

O diagnóstico precoce é crucial considerando que 57 milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de demência, e 60% apresentam Alzheimer

No Brasil, estima-se que 1,8 milhão de pessoas já tenham a doença, podendo triplicar até 2050. Um teste de sangue confiável permite intervenção antecipada, melhora o planejamento de tratamentos e fortalece políticas de saúde pública.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.