Estudos mostram que abelhas podem “ler” padrões de luz como Morse

Abelhas distinguem flashes curtos e longos como código Morse (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Abelhas distinguem flashes curtos e longos como código Morse (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Mesmo em cérebros minúsculos, menores que 1 mm³, as abelhas Bombus terrestris provaram que podem processar informações visuais complexas. Pesquisadores da Queen Mary University de Londres treinaram esses insetos para distinguir entre flashes curtos e longos, algo que se assemelha à interpretação de códigos Morse, onde diferentes durações de luz correspondem a símbolos específicos.

Esse experimento revela que a cognição temporal em insetos é mais sofisticada do que se imaginava, expandindo a compreensão sobre como pequenas criaturas podem realizar tarefas complexas. Principais resultados do estudo:

  • Abelhas associam flashes curtos e longos a diferentes recompensas;
  • Escolhem corretamente independentemente da posição do estímulo;
  • Capacidade detectada mesmo na ausência de pistas olfativas ou espaciais;
  • Sugere a existência de mecanismos neurais para medir intervalos de tempo;
  • Abre caminho para modelos de inteligência artificial inspirados em cérebros minúsculos.

Como as abelhas foram treinadas para decodificar luz?

Para testar essa habilidade, os pesquisadores construíram um labirinto experimental. Dois círculos exibiam flashes de diferentes durações: um associado a uma solução de açúcar e outro a uma substância amarga. Durante o treinamento, a posição dos estímulos era constantemente alterada, garantindo que as abelhas dependessem exclusivamente da duração da luz para tomar decisões.

Zangões mostram inteligência surpreendente em cérebros minúsculos (Imagem: Pexels/ Canva Pro)
Zangões mostram inteligência surpreendente em cérebros minúsculos (Imagem: Pexels/ Canva Pro)

Após o aprendizado, os insetos foram testados sem recompensas, confirmando que suas escolhas eram guiadas pela percepção temporal e não por qualquer outra pista sensorial.

Percepção temporal em cérebros minúsculos

Essa capacidade de distinguir flashes curtos e longos mostra que abelhas possuem um processamento temporal avançado, possivelmente derivado de relógios internos ou propriedades específicas de seus neurônios. A habilidade é muito mais rápida que os mecanismos circadianos, indicando que insetos podem perceber intervalos de tempo de maneira independente da luz natural do dia.

Além disso, isso sugere que mesmo cérebros extremamente pequenos podem executar tarefas cognitivas complexas, como navegação, comunicação e reconhecimento de padrões.

Habilidades cognitivas inesperadas e o que abelhas ensinam sobre inteligência

O estudo oferece insights valiosos para diversos campos da ciência. Ele ajuda a compreender a evolução da cognição em insetos e a explorar o processamento temporal mínimo em sistemas biológicos, revelando como cérebros muito pequenos podem executar tarefas complexas. Além disso, os resultados podem inspirar redes neurais artificiais mais eficientes, aproveitando conceitos de inteligência biológica. 

O trabalho também contribui para o desenvolvimento de modelos experimentais que investiguem memória e aprendizado em cérebros pequenos, ampliando o conhecimento sobre como animais integram tempo e estímulos visuais para tomar decisões rápidas. Esse avanço demonstra que habilidades cognitivas sofisticadas não exigem necessariamente cérebros grandes, oferecendo uma nova perspectiva sobre a inteligência em miniatura.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.