Estudo revela que remédio cardíaco tradicional não protege pacientes pós-infarto

Novas evidências científicas reforçam a necessidade de tratamentos mais personalizados para pacientes cardíacos.
Novas evidências científicas reforçam a necessidade de tratamentos mais personalizados para pacientes cardíacos. (Foto: Oporty / Canva Pro)

Pesquisas recentes indicam que o uso rotineiro de betabloqueadores após infarto do miocárdio pode não oferecer os benefícios esperados, especialmente em pacientes com função cardíaca preservada, e ainda apresentar riscos adicionais em mulheres.

Esses achados surgem do REBOOT Trial, um ensaio clínico internacional que analisou de forma rigorosa a eficácia do medicamento em larga escala.

Estrutura do estudo

Estudo internacional revela que o uso do medicamento após infarto pode não trazer os benefícios esperados.
Estudo internacional revela que o uso do medicamento após infarto pode não trazer os benefícios esperados. (Foto: Oporty / Canva Pro)

O ensaio envolveu 8.505 participantes distribuídos entre 109 hospitais na Espanha e na Itália. Os voluntários foram divididos aleatoriamente para receber betabloqueadores ou não, todos seguindo o tratamento padrão atual para pacientes pós-infarto. 

O acompanhamento médio durou aproximadamente quatro anos, permitindo a avaliação de desfechos importantes, como mortalidade, recorrência de infarto e hospitalização por insuficiência cardíaca.

Principais conclusões:

  • Não houve diferenças significativas entre os grupos em termos de sobrevida ou eventos cardíacos graves.
  • Mulheres com fração de ejeção do ventrículo esquerdo ≥ 50% apresentaram aumento de 2,7% no risco absoluto de mortalidade ao longo de 3,7 anos.
  • Homens não demonstraram aumento de risco associado ao uso do medicamento.

Implicações para a cardiologia moderna

Esses resultados indicam que a prescrição automática de betabloqueadores em todos os pacientes pós-infarto deve ser reconsiderada, sobretudo considerando os avanços recentes em revascularização precoce e terapias modernas. Entre os pontos de destaque estão:

  • Necessidade de estratégias personalizadas de tratamento, adaptadas ao perfil de cada paciente.
  • Revisão de protocolos antigos que podem não se alinhar às evidências atuais.
  • Atenção especial à segurança de mulheres com função cardíaca preservada.

Sendo assim, o REBOOT Trial evidencia que mesmo medicamentos consagrados por décadas podem apresentar eficácia limitada em contextos contemporâneos. O estudo foi conduzido de forma independente, sem financiamento da indústria farmacêutica, reforçando a credibilidade dos resultados.

O ensaio abre espaço para uma abordagem mais precisa e segura no tratamento pós-infarto, incentivando profissionais de saúde a avaliar individualmente os benefícios e riscos antes de prescrever betabloqueadores, especialmente em populações com função cardíaca normal.

Portanto, vale destacar que:

  • O acompanhamento contínuo de práticas médicas consolidadas é fundamental para a evolução da cardiologia.
  • Evidências como essas ajudam a proteger pacientes de intervenções desnecessárias ou potencialmente prejudiciais.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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