A ideia de que crustáceos (como camarões, caranguejos e lagostas) são seres simples e insensíveis está sendo derrubada rapidamente pela ciência. Uma declaração assinada por mais de 30 especialistas em biologia, bem-estar animal e veterinária afirma que esses animais são sencientes, ou seja, capazes de sentir dor, medo, desconforto e até emoções básicas. A conclusão reforça um tema que ganha relevância global: a necessidade de rever práticas de produção e abate que envolvem bilhões de indivíduos todos os anos.
A urgência do debate fica evidente quando se observa a escala: a estimativa anual ultrapassa 440 bilhões de camarões criados em fazendas, número que se torna ainda mais expressivo quando somado aos animais capturados pela pesca. Principais pontos levantados pelos pesquisadores:
- Crustáceos reagem a estímulos aversivos e evitam situações dolorosas;
- Apresentam comportamentos compatíveis com processamento consciente da dor;
- Possuem receptores e vias neurais ligados à nocicepção;
- Mostram capacidades como aprendizado, memória, reconhecimento e discriminação de cores;
- Demonstram diferenças comportamentais interpretadas como traços individuais.
O que significa reconhecer a senciência desses animais

A partir do momento em que crustáceos são reconhecidos como seres capazes de sofrer, surge uma responsabilidade ética e científica sobre como eles são manejados. Apesar da enorme importância econômica, poucos países possuem protocolos claros de bem-estar para invertebrados aquáticos, deixando uma lacuna regulatória que afeta milhões de animais por dia.
Além disso, estudos mostram que o comportamento doloroso pode ser reduzido por anestesia, reforçando que as reações não são simples reflexos automáticos, mas respostas fisiológicas complexas. Isso tem implicações diretas na criação intensiva, no transporte e, principalmente, no abate.
Novos rumos para o manejo e para a produção aquícola
Organizações internacionais já começam a incluir esses animais em diretrizes mais atualizadas, mas instituições globais ainda carecem de normas detalhadas. Pesquisadores defendem que práticas como insensibilização elétrica sejam adotadas, garantindo inconsciência rápida antes da morte e reduzindo o sofrimento.

Além disso, fatores como qualidade da água, densidade populacional e manejo alimentar ganham destaque como pilares de uma produção mais ética e sustentável. A implementação de tais medidas não apenas melhora a qualidade de vida dos animais, como também favorece a saúde do ecossistema e a segurança alimentar.
A crescente quantidade de evidências transforma o tema em uma discussão global e inevitável. Crustáceos são protagonistas invisíveis da cadeia alimentar, presentes em larga escala e, até recentemente, ignorados em debates de bem-estar. Reconhecer sua senciência significa atualizar nossas práticas de acordo com o conhecimento científico mais sólido disponível e avançar para uma produção mais humana e responsável.

