Estudo revela que a diversidade dos cães começou há 11 mil anos

Cães antigos já exibiam grande diversidade de formas e tamanhos. (Foto: Africa Images via Canva)
Cães antigos já exibiam grande diversidade de formas e tamanhos. (Foto: Africa Images via Canva)

A variedade de formas e tamanhos dos cães não começou no século 19, como muitos acreditam. Pesquisas recentes indicam que a diversidade morfológica desses animais surgiu milhares de anos antes das raças modernas, refletindo um processo de coevolução com os seres humanos. 

Pesquisa divulgada na revista Science examinou 643 crânios de canídeos ao longo de 50 mil anos, mostrando que transformações morfológicas importantes surgiram há aproximadamente 11 mil anos, no período Mesolítico, muito antes das criações seletivas intensificadas na era vitoriana.

O surgimento dos primeiros cães identificáveis

Os primeiros fósseis caninos claramente distintos dos lobos foram encontrados no sítio de Veretye, na Rússia, datados entre 11.145 e 10.724 anos a.C. Esses animais já apresentavam redução de tamanho, afinamento do focinho e alterações nas regiões relacionadas à mastigação e olfato, indícios de uma relação próxima com humanos e mudanças na dieta.

  • Crânios do Pleistoceno tardio, antes considerados “primeiros cães”, na verdade eram lobos.
  • A diversidade inicial incluía cães menores, mas ainda sem as formas extremas das raças atuais, como buldogues e borzois.
  • Características morfológicas indicam que os cães antigos já ocupavam funções sociais variadas, desde caça até companhia.

Ferramentas modernas revelam evolução

Seleção natural moldou cães muito antes do período vitoriano. (Foto: Getty Images via Canva)
Seleção natural moldou cães muito antes do período vitoriano. (Foto: Getty Images via Canva)

Pesquisadores aplicaram modelos 3D e morfometria geométrica para comparar crânios de lobos antigos, cães neolíticos e exemplares contemporâneos. Essa abordagem permitiu rastrear a trajetória física dos cães e demonstrar que a variação morfológica foi crescente ao longo do Holoceno.

Entre 10.000 e 8.700 anos atrás, o encolhimento craniano tornou-se estatisticamente detectável, evidenciando seleção humana consistente. De 8.200 a 7.200 anos atrás, surgem os primeiros sinais de grande diversidade de formas, refletindo adaptações ecológicas e papéis específicos dentro das sociedades humanas.

Expansão geográfica e diversidade funcional

A disseminação dos cães acompanhou a migração humana pós-glacial, chegando à Ásia, América e Europa. Um exemplo notável é o cão do sítio de Koster, nos EUA, datado de cerca de 8,6 mil anos atrás, considerado um dos primeiros cães inequivocamente domesticados nas Américas.

  • Entre 9.700 e 8.700 anos, o tamanho craniano diminuiu de forma consistente.
  • Entre 8.200 e 7.200 anos, a diversidade de formas aumentou, embora ainda sem extremos modernos.
  • Primeiros cães asiáticos claramente domesticados datam de 7.420 a 6.320 anos atrás, com crânios totalmente distintos dos lobos.

Legado milenar de diversidade canina

A pesquisa evidencia que a diversidade canina é um fenômeno milenar, não apenas resultado de cruzamentos modernos. Desde os primeiros cães mesolíticos até as raças contemporâneas, os animais foram moldados por pressões ecológicas, sociais e culturais, refletindo a complexa relação entre humanos e seus companheiros.

O estudo amplia nossa compreensão da domesticação como um processo biológico e cultural multifacetado, lembrando que os cães atuais carregam milhares de anos de história evolutiva em sua morfologia e comportamento.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.