Durante a pandemia, a perda de olfato se tornou um dos sinais mais marcantes da infecção por Covid-19. No entanto, um novo estudo publicado na JAMA indica que muitas pessoas continuam com disfunção olfatória sem saber. Mesmo após quase dois anos da infecção, parte dos pacientes ainda apresenta dificuldade em sentir cheiros, e isso passa despercebido no dia a dia.
Disfunção olfatória oculta é mais comum do que se imagina
Os cientistas avaliaram 3.525 voluntários, sendo a maioria com histórico de Covid-19. Todos realizaram um teste de olfato padronizado, conhecido como UPSIT, que mede a capacidade de identificar diferentes odores.
Os resultados chamaram a atenção:
- Entre quem havia sentido perda de olfato, a maioria, quase oito em cada dez, ainda apresentava algum grau de alteração, mesmo muito tempo após a infecção.
- Entre os que acreditavam não ter sido afetados, dois terços mostraram desempenho abaixo do normal nos testes, revelando que o problema pode existir mesmo sem ser notado.
Isso sugere que a Covid pode ter danificado o sistema olfativo de forma sutil, gerando uma condição chamada disfunção olfatória oculta, em que o indivíduo acredita estar com o olfato normal, mas perdeu parte da capacidade sensorial.
Olfato e cérebro: elo que vai além do cheiro

Além de dificultar a percepção de aromas e sabores, a alteração no olfato pode ter impactos cognitivos. O estudo mostrou que quem apresentou disfunção olfatória também relatou mais problemas de concentração e memória, sintomas conhecidos como “nevoeiro mental” ou brain fog.
Essa associação reforça que o olfato é mais do que um sentido ligado ao prazer de cheirar e saborear alimentos: ele está profundamente conectado às funções cerebrais e emocionais.
Importância do acompanhamento pós-Covid
Os pesquisadores defendem que testes formais de olfato deveriam ser incorporados ao acompanhamento de quem teve Covid-19. Identificar precocemente essas alterações ajuda a monitorar possíveis sequelas neurológicas e orientar intervenções que melhorem a qualidade de vida dos pacientes.
Ainda assim, os especialistas ressaltam que o olfato pode se regenerar ao longo do tempo, especialmente quando há reabilitação olfativa, uma técnica simples baseada na exposição diária a diferentes cheiros para estimular os nervos olfatórios.
O que esse achado ensina sobre os efeitos da Covid
Mesmo anos após o fim da fase aguda da pandemia, o vírus continua revelando efeitos sutis e duradouros. A disfunção olfatória oculta mostra que as sequelas da Covid podem permanecer silenciosas, exigindo atenção médica e vigilância contínua.
Mais do que um sintoma passageiro, a perda de olfato se tornou um marcador importante da saúde cerebral, e pode ajudar a entender melhor as consequências neurológicas deixadas pela infecção.