A ideia de que certas pessoas são mais impulsivas acaba de ganhar uma explicação científica. Um estudo robusto publicado na revista Molecular Psychiatry identificou elementos genéticos que ajudam a explicar por que algumas pessoas têm maior dificuldade em adiar recompensas.
A pesquisa mostrou que essa característica, chamada desconto temporal, pode estar ligada a uma ampla variedade de riscos à saúde mental e física.
DNA molda decisões e comportamentos cotidianos
A pesquisa, conduzida por Sandra Sanchez-Roige, Abraham A. Palmer, Hayley Thorpe e colaboradores, avaliou dados de 134.935 participantes. O estudo, intitulado “Genetic architecture of delay discounting and its links to psychiatric, metabolic and cognitive traits”, identificou 11 regiões genéticas associadas ao padrão de priorizar ganhos imediatos menores em vez de recompensas maiores no futuro.
Essas regiões envolvem genes participantes de processos essenciais para o funcionamento cerebral, como sinalização de neurotransmissores, crescimento neuronal e vias metabólicas. Dessa forma, torna-se claro que a impulsividade não depende apenas de contexto ou personalidade, mas também de configurações biológicas profundas.
Conexões entre impulsividade, metabolismo e saúde mental

O estudo encontrou correlações genéticas com 73 características, mostrando que o desconto temporal compartilha bases biológicas com condições psiquiátricas, metabólicas e cognitivas. Esse padrão ajuda a explicar por que indivíduos com maior impulsividade podem apresentar riscos aumentados para problemas como:
• obesidade
• diabetes tipo 2
• dor crônica
• uso de substâncias
• alterações de humor
• distúrbios gastrointestinais
Essas inter-relações emergem de redes genéticas que conectam cognição, metabolismo e comportamentos externalizantes. Assim, a impulsividade se apresenta como uma característica transdiagnóstica, influenciando várias dimensões da saúde.
O impacto clínico das pontuações poligênicas
Para avaliar a relevância prática dessas descobertas, os pesquisadores criaram pontuações poligênicas relacionadas ao desconto temporal e as aplicaram em uma coorte de mais de 66.000 indivíduos hospitalares. As análises identificaram associação com 212 desfechos médicos, incluindo doença cardíaca isquêmica e transtornos relacionados ao tabaco.
Esses achados sugerem que medir a tendência genética à impulsividade pode, no futuro, auxiliar na estratificação de risco, no planejamento terapêutico e no desenvolvimento de intervenções voltadas para prevenção.
Embora o estudo ofereça pistas valiosas sobre a base genética da impulsividade, ele também destaca a necessidade de investigações que testem relações causais e considerem fatores ambientais. A impulsividade é influenciada por herança, mas também por contexto de vida, nível socioeconômico e experiências individuais.
Ainda assim, o fato de o desconto temporal ser uma característica mensurável e altamente hereditária abre portas para novas estratégias de saúde pública e intervenções comportamentais mais precisas.

