Um grupo específico de neurônios no cérebro acaba de chamar a atenção da ciência por sua capacidade de controlar temperatura corporal e metabolismo de forma simultânea. Pesquisadores da Universidade Harvard, liderados por uma brasileira, identificaram essas células no núcleo mediano pré-óptico do hipotálamo, demonstrando que podem induzir tanto a febre quanto o torpor, um estado em que funções fisiológicas e metabólicas são reduzidas ao extremo. Publicado na revista Nature e apoiado pela FAPESP, o estudo tem implicações que vão desde novas terapias médicas até estratégias para viagens espaciais de longa duração.
Esses neurônios expressam o receptor de prostaglandina E2 do tipo EP3, permitindo um controle dual do organismo. Entre os principais achados, destacam-se:
- Ativação dos neurônios induz torpor, com redução segura da temperatura corporal;
- Inibição provoca febre, fortalecendo respostas imunológicas;
- Metabolismo reduzido em até 80% em camundongos, demonstrando potencial terapêutico;
- Controle sem efeitos adversos típicos da hipotermia tradicional, como tremores ou instabilidade cardíaca;
- Possível aplicação futura em viagens espaciais, reduzindo a demanda energética e de alimentos.
Potencial terapêutico e indução de torpor

O torpor controlado permite que tecidos resistam por mais tempo à falta de oxigênio, sendo promissor em casos de acidente vascular cerebral (AVC) ou cirurgias complexas. Atualmente, técnicas de hipotermia terapêutica oferecem apenas reduções moderadas de temperatura, frequentemente acompanhadas de efeitos colaterais. A ativação direta desses neurônios age como um “termostato interno”, diminuindo a temperatura corporal sem que o organismo reaja para normalizá-la, garantindo maior segurança e eficácia.
Métodos avançados de estudo
Para confirmar a função desses neurônios, os pesquisadores usaram abordagens inovadoras em camundongos geneticamente modificados:
- Quimiogenética para ativar células específicas via receptores mutados;
- Optogenética, usando luz para estimular neurônios em tempo real;
- Mensuração do cálcio intracelular, identificando o principal sinalizador das respostas;
A remoção dessas células impede tanto a febre quanto o torpor, comprovando seu papel essencial na regulação térmica e metabólica. O foco agora é descobrir maneiras não invasivas de reproduzir o efeito do torpor em humanos, possivelmente por meio de hormônios ou peptídeos circulantes, sem necessidade de manipulação genética. Pesquisas adicionais podem abrir novas perspectivas para tratar sepse, reduzir danos em ACVs e até apoiar missões espaciais prolongadas, onde o metabolismo reduzido diminuiria necessidades de energia e suprimentos.

