O Cinturão de Kuiper, região além de Netuno, acaba de revelar pistas sobre uma das estruturas mais antigas do Sistema Solar. Pesquisadores da Universidade de Princeton identificaram um grupo de corpos gelados com órbitas quase perfeitamente circulares, sugerindo que essa região permaneceu praticamente inalterada desde os primeiros estágios da formação planetária. A descoberta reforça a ideia de que o Cinturão funciona como um arquivo cósmico, guardando informações cruciais sobre os primórdios do nosso sistema planetário.
A análise envolveu mais de 1.600 objetos transnetunianos e utilizou algoritmos avançados de agrupamento para identificar padrões orbitais. Entre as descobertas mais notáveis está um possível “núcleo interno”, localizado a cerca de 43 unidades astronômicas (UA) do Sol, caracterizado por uma excentricidade extremamente baixa, um indicativo de que essas órbitas permanecem estáveis há bilhões de anos. Principais características do núcleo interno identificado:
- Objetos com órbitas quase perfeitas, indicando estabilidade a longo prazo;
- Localização a 43 UA do Sol, entre Netuno e os limites externos do Cinturão;
- Possível formação durante a migração instável de Netuno, fase crítica da evolução planetária;
- Diferenças marcantes em relação ao núcleo previamente identificado em 2011;
- Potencial para fornecer informações sobre condições interestelares atravessadas pelo Sistema Solar.
Um relicário dos primórdios do Sistema Solar

O Cinturão de Kuiper é composto por milhões de corpos gelados, incluindo planetas anões como Plutão, e representa uma “terceira zona” do Sistema Solar. Além de armazenar vestígios do passado, a região oferece pistas sobre a migração dos planetas gigantes e sobre o ambiente dinâmico que moldou o Sistema Solar como conhecemos hoje.
Essa nova pesquisa, publicada no servidor de pré-impressão arXiv, amplia o conhecimento sobre a diversidade das populações do Cinturão. Enquanto estudos anteriores separaram os objetos em populações “quentes” e “frias”, o núcleo interno recém-identificado sugere uma estrutura ainda mais primitiva, capaz de restringir modelos sobre o aquecimento dinâmico que o Cinturão experimentou nos primeiros milhões de anos.
O futuro da observação do Cinturão de Kuiper

O Legacy Survey of Space and Time (LSST), operado pelo Observatório Vera C. Rubin, será crucial para confirmar a existência dessa estrutura. Com dados mais precisos, os astrônomos poderão verificar se o núcleo interno é realmente uma população distinta e compreender melhor o processo de formação planetária e a história do Sistema Solar.
Essa descoberta não apenas reforça o valor do Cinturão de Kuiper como um arquivo natural, mas também abre caminho para novas teorias sobre a evolução orbital dos planetas gigantes e a composição primordial do Sistema Solar. À medida que novas observações se tornam disponíveis, espera-se que mais segredos desses corpos gelados sejam revelados, oferecendo uma janela direta para a infância cósmica da Terra e de seus vizinhos planetários.

