Depois de longas missões fora da Terra, muitos astronautas enfrentam um desconforto inesperado: o enjoo espacial, um distúrbio que provoca tontura, náusea e desorientação logo após o retorno ao planeta. A novidade é que uma tecnologia já usada em jogos pode oferecer alívio quase imediato, os óculos de realidade virtual (VR).
Um estudo publicado na revista Frontiers in Physiology mostrou que a imersão em ambientes virtuais pode ajudar o cérebro a reorganizar suas referências espaciais, reduzindo o enjoo de movimento em mais de 50% dos casos. Essa descoberta indica que o futuro das missões espaciais pode ser mais confortável e livre de medicamentos com efeitos colaterais. Principais destaques do estudo:
- O enjoo ocorre quando há conflito entre o que o corpo sente e o que os olhos percebem;
- Medicamentos usados atualmente causam sonolência e perda de atenção;
- A realidade virtual ajuda o cérebro a reajustar a percepção da gravidade;
- Testes mostraram uma queda expressiva nos sintomas de náusea e tontura;
- A técnica pode ser adaptada para aviões, carros e embarcações.
Quando o corpo volta, mas o cérebro ainda está no espaço
Durante a estadia em microgravidade, o corpo se acostuma à ausência de peso. No entanto, ao regressar à Terra, o cérebro demora a reconhecer o retorno à gravidade. Essa dissonância sensorial é a principal responsável pelas crises de enjoo que afetam parte significativa dos astronautas logo após o pouso.

O problema se agrava em situações nas quais a cápsula balança sobre o oceano, forçando o corpo a lidar com estímulos ainda mais confusos. Nesses casos, o enjoo não é apenas incômodo, pode comprometer o tempo de reação e a capacidade de decisão em momentos críticos.
Da ficção científica ao laboratório
Para testar a eficácia da realidade virtual, cientistas da Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen conduziram experimentos em condições que simulavam o ambiente pós-voo espacial. Três grupos de voluntários foram submetidos a movimentos oscilatórios com diferentes níveis de estímulo visual.
Enquanto dois terços dos participantes sem qualquer referência visual ficaram enjoados ao final do teste, apenas 20% dos que receberam uma simulação lateral desistiram antes do fim. Já o grupo com visão frontal em tempo real, onde o sistema antecipava os movimentos, teve apenas 10% de desistência.
Esses resultados reforçam que, ao fornecer um contexto visual coerente com o movimento, os óculos de VR ajudam o cérebro a restabelecer o equilíbrio interno, evitando a confusão sensorial que causa o enjoo.
Aplicações muito além das viagens espaciais
A utilidade dessa abordagem não se limita às missões orbitais. O mesmo princípio pode beneficiar motoristas, passageiros de aviões, marinheiros e até usuários de carros autônomos, em que o cérebro também enfrenta discrepâncias sensoriais.Com isso, os óculos de realidade virtual passam a ser vistos não apenas como instrumentos de lazer, mas como ferramentas terapêuticas promissoras. Se confirmados em estudos mais amplos, seus benefícios poderão revolucionar o tratamento do enjoo de movimento, no espaço e aqui na Terra.

