Uma nova tecnologia criada por uma pesquisadora brasileira pode transformar completamente o diagnóstico e o tratamento do câncer. A MasSpec Pen, desenvolvida pela química Lívia Schiavinato Eberlin, é uma caneta capaz de identificar tecidos cancerígenos em apenas 10 segundos, diretamente durante a cirurgia.
O dispositivo, já em fase de testes clínicos no Brasil, promete reduzir o tempo cirúrgico, aumentar a precisão dos procedimentos e evitar a remoção desnecessária de tecidos saudáveis.
Como a tecnologia funciona
A MasSpec Pen atua como uma extensão das mãos do cirurgião. Ao encostar a ponta do dispositivo sobre o tecido suspeito, ele libera uma microgota de água estéril, que interage por poucos segundos com as células. Essa gota absorve moléculas biológicas, como lipídios e metabólitos, e as envia a um espectrômetro de massas, que analisa a composição química do tecido em tempo real.
Em segundos, o aparelho exibe na tela se o tecido é normal ou tumoral, permitindo que o médico decida o quanto precisa remover. O processo é totalmente indolor e não causa danos ao tecido, funcionando como uma espécie de “biópsia instantânea”.
Diferença em relação ao método tradicional

Hoje, o padrão-ouro nas cirurgias oncológicas é o exame de congelação de tecidos, que pode levar até 1h30 para ser concluído. Durante esse tempo, o paciente permanece anestesiado enquanto o material é analisado no laboratório.
A nova caneta elimina essa espera. Com o resultado imediato, o cirurgião pode ajustar os limites da remoção tumoral ainda na sala de operação, reduzindo riscos e aumentando a taxa de sucesso.
Em testes publicados na revista JAMA Surgery (2023), com mais de 100 pacientes, a MasSpec Pen apresentou acurácia superior a 92% na diferenciação entre tecidos cancerígenos e saudáveis.
O impacto para o tratamento do câncer
Além de detectar o tumor, os estudos mais recentes indicam que o dispositivo também pode avaliar o perfil imunológico do câncer, ou seja, se ele é mais propenso ou resistente a tratamentos como a imunoterapia.
Esse avanço pode permitir que, logo após a cirurgia, o médico personalize o plano terapêutico de cada paciente, sem precisar esperar semanas pelos resultados laboratoriais.
Com essa inovação, o tratamento se torna mais rápido, preciso e adaptado à biologia individual de cada tumor.
Brasil em destaque na ciência mundial
Natural de Campinas (SP), Lívia Eberlin é doutora em Química e professora na Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos. Sua criação já é considerada uma das principais inovações médicas da última década, e o Hospital Israelita Albert Einstein é o primeiro fora dos EUA a testar a tecnologia em pacientes reais.
O projeto está sendo conduzido em parceria com a Thermo Fisher Scientific, responsável pelo espectrômetro de massas Orbitrap 240, que processa os dados químicos coletados pela caneta.
Com o sucesso dos estudos clínicos, a MasSpec Pen deve seguir para aprovação pelas agências FDA e Anvisa, abrindo caminho para o uso hospitalar em larga escala.
Essa conquista reafirma o potencial da ciência brasileira e mostra como a inovação pode encurtar o caminho entre diagnóstico e cura.

