Mesmo após uma temporada marcada por avanços no combate à derrubada ilegal, a Amazônia entrou em 2025 sob um alerta crescente. A redução expressiva da perda de floresta não refletiu em menor pressão ambiental. Pelo contrário: o fogo assumiu protagonismo nos primeiros meses do ano, revelando um cenário mais complexo do que a simples análise do desmatamento permite enxergar.
À primeira vista, a queda acentuada da derrubada poderia indicar um período de recuperação ecológica. No entanto, ao observar a dinâmica das queimadas, fica claro que a destruição continua ocorrendo, apenas de outra forma e por mecanismos diferentes. Para entender o quadro atual, considere que:
- A derrubada foi reduzida em mais de 30% na última temporada;
- Os alertas recentes voltaram a crescer, impulsionados pela seca prolongada;
- As queimadas representaram mais da metade dos avisos de destruição no início de 2025;
- O fogo se espalha tanto em áreas abertas quanto em vegetação preservada;
- Os impactos ambientais se acumulam, afetando clima, água, solo e biodiversidade.
A lógica por trás da divergência: corte cai, fogo aumenta
A redução do desmatamento está ligada principalmente ao controle da abertura de novas áreas agrícolas e pastagens. Já o fogo tem uma lógica mais abrangente: ele atinge tanto locais recém-abertos quanto espaços já ocupados há anos. Além disso, o uso do fogo para renovação de pastagem e limpeza de resíduos agrícolas permanece ativo, mesmo em momentos de maior fiscalização.

A seca prolongada, intensificada por mudanças climáticas, funciona como combustível para essa expansão. Com a vegetação mais suscetível, qualquer foco se converte rapidamente em incêndios extensos, ultrapassando limites de propriedades e alcançando trechos de floresta intacta.
Fogo que avança também destrói silenciosamente
A propagação das queimadas na Amazônia traz uma soma de efeitos que vão muito além da área queimada. O solo perde sua capacidade de regeneração e infiltração; espécies sofrem queda populacional; microclimas regionais se alteram; e a emissão de gases intensifica o aquecimento global. Em regiões onde o fogo se repete por anos consecutivos, a floresta perde vigor e pode caminhar para degradação permanente.
Mesmo quando ocorre apenas em áreas alteradas, o fogo contribui para um ciclo que enfraquece a resiliência ecológica do bioma e facilita futuras destruições.
Fiscalização avança no desmate, mas ainda falha no combate ao fogo
Os sistemas modernos de monitoramento conseguiram reduzir a derrubada de árvores de forma significativa, graças ao acompanhamento por satélite e ao aumento das ações de controle. Entretanto, a resposta ao fogo ainda não acompanha a mesma eficiência. O manejo inadequado de queimadas, aliado a períodos de estiagem severa, ultrapassa a capacidade atual de fiscalização.
Enquanto a derrubada requer máquinas, logística e planejamento, o fogo avança de forma rápida e, muitas vezes, clandestina, exigindo estratégias específicas de combate e prevenção.

