A foca-leopardo, uma espécie solitária da Antártida, revela um comportamento maternal raro e surpreendente: mães cuidam de filhotes mortos por semanas, um fenômeno chamado atenção pós-morte (PAB). Observações recentes realizadas por pesquisadores da Universidade de Rhode Island, documentadas na revista Polar Biology, oferecem uma visão inédita desse vínculo, destacando como investimento materno pode se manifestar mesmo diante da morte da prole.
O estudo envolve monitoramento rigoroso das focas-leopardo utilizando padrões de pelagem únicos para identificar indivíduos e acompanhar seu comportamento ao longo de anos. Essa abordagem permitiu registrar casos em que mães mantinham cuidados por mais de 20 dias, desafiando o que se sabia sobre comportamentos maternos em mamíferos marinhos.
- As mães focas carregam filhotes mortos por longos períodos;
- Fenômeno é raro entre pinípedes e mamíferos marinhos em geral;
- Comportamento envolve alto gasto de energia e dedicação prolongada;
- Observações foram verificadas com operadores turísticos e catálogos de monitoramento;
- Algoritmos recentes auxiliam na identificação digital de focas individuais.
Um comportamento compartilhado com mamíferos terrestres
O PAB não é exclusivo das focas. Ele já foi documentado em primatas, elefantes africanos, dingos e até girafas. No entanto, sua ocorrência em mamíferos marinhos é rara, em parte devido às dificuldades de observação em ambientes aquáticos remotos. Estudos como este ajudam a entender como laços afetivos e respostas hormonais podem influenciar comportamentos maternos mesmo quando não há benefícios adaptativos diretos.
Possíveis causas do comportamento

Pesquisas sugerem que o cuidado prolongado com filhotes mortos pode estar ligado à cascata hormonal pós-parto, semelhante ao que ocorre em humanos. Hormônios como oxitocina e prolactina poderiam manter o vínculo materno ativo, dificultando o desapego mesmo após a morte do filhote. Esse investimento energético, embora desadaptativo do ponto de vista evolutivo, evidencia a complexidade da biologia emocional e reprodutiva desses animais.
O estudo combinou observações de campo com novas ferramentas de ciência computacional, incluindo algoritmos para identificação automatizada das focas, substituindo catálogos analógicos e agilizando a análise de milhares de imagens. Isso permite acompanhar padrões de comportamento e reprodução de forma mais precisa, contribuindo para a conservação e compreensão da espécie.
Implicações para biologia e conservação
Compreender o PAB em focas-leopardo oferece insights sobre investimento parental extremo e a influência de fatores fisiológicos no comportamento. Além disso, o estudo ressalta a importância da colaboração entre pesquisadores, guardas-parques e tecnologias avançadas para investigar espécies esquivas e vulneráveis, revelando comportamentos que antes eram invisíveis devido à dificuldade de monitoramento na Antártida.

