Descoberta mostra como destravar a imunoterapia no câncer de intestino

Estudo revela como o câncer desliga o sistema imune. (Foto: Getty Images via Canva)
Estudo revela como o câncer desliga o sistema imune. (Foto: Getty Images via Canva)

A imunoterapia transformou o tratamento de diversos tipos de câncer, mas no câncer de intestino seus resultados ainda são limitados. Agora, um estudo pioneiro revela por que esse tipo de tumor consegue escapar do sistema imunológico e, mais importante, como esse bloqueio pode ser revertido. 

A descoberta inaugura uma nova estratégia terapêutica, com potencial para tornar a imunoterapia finalmente eficaz em tumores colorretais avançados.

O estudo que revelou o “freio imunológico” do câncer

Pesquisadores da Universidade de Galway publicaram no Journal for ImmunoTherapy of Cancer o estudo intitulado “Tumor stromal sialoglycans suppress innate immunity in colorectal cancer”, liderado por Aideen Ryan. A pesquisa demonstrou que o próprio microambiente tumoral atua de forma ativa para desligar o sistema imunológico.

Diferentemente do que se pensava, o câncer de intestino não apenas evita o ataque imunológico, mas reprograma células de defesa essenciais, criando um ambiente favorável ao crescimento tumoral e à metástase.

Como o tumor bloqueia as defesas do organismo

Nova estratégia pode destravar imunoterapia no intestino. (Foto: True Creatives via Canva)
Nova estratégia pode destravar imunoterapia no intestino. (Foto: True Creatives via Canva)

O trabalho identificou um papel central das células estromais tumorais, estruturas que sustentam o tumor. Essas células são recobertas por sialoglicanos, moléculas de açúcar que interagem com receptores chamados Siglecs, presentes em células imunológicas.

Essa interação provoca a inativação de duas linhas fundamentais de defesa:

  • Células natural killer (NK)
  • Macrófagos antitumorais

Como resultado, o sistema imunológico se torna incapaz de reconhecer e destruir o câncer, mesmo quando a imunoterapia é administrada.

O ponto-chave da descoberta terapêutica

O estudo identificou uma enzima específica responsável pela produção dos sialoglicanos que silenciam a resposta imunológica. Ao bloquear essa via com sialidases, os pesquisadores observaram:

  • Reativação das células NK e macrófagos
  • Redução significativa do volume tumoral
  • Bloqueio da disseminação metastática

Esse achado mostra que o tumor depende ativamente desse mecanismo para sobreviver, o que abre um novo ponto de intervenção terapêutica.

Futuro da imunoterapia

Atualmente, apenas uma pequena parcela dos pacientes com câncer colorretal responde bem à imunoterapia. A identificação do eixo sialoglicano Siglec como um bloqueador imunológico explica essa resistência e aponta um caminho claro para superá-la.

Além disso, a descoberta sugere que combinar imunoterapia com inibidores desse freio imunológico pode transformar tumores antes resistentes em alvos vulneráveis ao próprio sistema de defesa do corpo.

Nova perspectiva para o tratamento do câncer de intestino

Ao revelar que o câncer de intestino reprograma ativamente o sistema imunológico, este estudo redefine a compreensão da doença. Mais do que um avanço técnico, trata-se de um novo paradigma, no qual restaurar a função imunológica pode ser tão importante quanto atacar diretamente o tumor.

Essa abordagem abre caminho para terapias mais eficazes, com impacto direto na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.