Um mistério que durou mais de 1.500 anos finalmente recebeu respostas científicas: a primeira pandemia conhecida, a Peste de Justiniano, que assolou o Império Bizantino entre 541 e 750 d.C., foi causada pela bactéria Yersinia pestis. Esta é a mesma espécie associada à Peste Negra e a outros surtos ao longo da história, confirmando a relevância contínua da bactéria para a saúde pública ao longo dos séculos.
Evidências arqueológicas e análise genética
A descoberta foi possível através da investigação de dentes humanos escavados em Jerash, na Jordânia, próximo ao epicentro histórico da doença. A antiga arena romana da cidade, convertida em cemitério coletivo, forneceu amostras essenciais para a análise.
A pesquisa revelou que todas as vítimas apresentavam cepas geneticamente quase idênticas de Y. pestis, indicando um surto rápido e devastador, consistente com relatos históricos de mortalidade em massa.
Essa uniformidade genética confirma a presença da bactéria no coração do Império Bizantino entre 550 e 660 d.C., preenchendo lacunas que há séculos existiam na compreensão da Peste de Justiniano. Além disso, o estudo conecta evidências biológicas concretas às descrições históricas de cidades sobrecarregadas e alta mortalidade em períodos de surto.
Panorama evolutivo da Yersinia pestis

Análises complementares de centenas de genomas antigos e modernos da bactéria demonstraram que a Y. pestis já circulava entre humanos muito antes da pandemia de Justiniano.
Diferentemente da Covid-19, que teve origem em um único evento, as pandemias de peste surgiram de forma independente a partir de reservatórios animais, repetindo-se em diferentes regiões e períodos históricos.
Impacto social e histórico
O sítio arqueológico de Jerash oferece uma visão única sobre a vulnerabilidade de cidades antigas. Estruturas públicas, antes destinadas a entretenimento e prestígio cívico, tornaram-se rapidamente cemitérios coletivos, evidenciando como a rápida disseminação de doenças infecciosas podia comprometer a vida urbana.
Além de esclarecer a origem histórica da primeira pandemia, a pesquisa reforça que a peste ainda representa uma ameaça, circulando em reservatórios animais. O estudo amplia a compreensão sobre padrões de evolução e disseminação da doença, ajudando a contextualizar surtos históricos e a desenvolver estratégias de monitoramento em saúde pública.