Mais de três décadas após o desastre nuclear de 1986, a Zona de Exclusão de Chernobyl continua sendo um laboratório natural para estudos sobre radiação, adaptação e vida selvagem. Entre edifícios abandonados e florestas densas, vivem cerca de 900 cães descendentes de animais domésticos, além de lobos, linces, cervos e outras espécies. A região é um mosaico de níveis de radiação, com apenas 30% do território classificado como altamente perigoso, permitindo que a fauna prospere na ausência de atividades humanas intensas.
Recentemente, o caso curioso dos “cães azuis” chamou atenção global. A investigação revelou que a pelagem azulada não se devia à radiação nem a mutações genéticas, mas sim a exposição a resíduos químicos, refletindo comportamentos naturais desses animais.
- População atual de cães: cerca de 900 indivíduos;
- Três cães vistos com pelagem azulada, sem risco à saúde;
- Estudos genéticos revelam isolamento e linhagens diversas;
- Programas de vacinação e esterilização mantêm população sustentável;
- Vida selvagem diversificada domina a região em geral.
Genética, ancestralidade e adaptação

Estudos publicados em Scientific Reports analisaram a genética de 302 cães, divididos em grupos próximos à usina e nas áreas externas da zona. A análise revelou diferenças significativas em regiões do genoma relacionadas a reparo de DNA, sistema imunológico e resposta ao estresse, mas nenhum aumento geral de mutações, indicando que a radiação não gerou adaptações genéticas amplas.
Além disso, identificou-se ancestralidade distinta entre cães urbanos e do complexo industrial. Animais próximos à usina apresentaram mais marcadores de pastores alemães e do leste europeu, utilizados historicamente como cães de guarda. Ao todo, foram mapeadas 15 famílias genéticas, algumas se estendendo por vários pontos da zona, o que evidencia deslocamento para reprodução e manutenção da diversidade genética.
Radiação, comportamento e impacto ambiental
Pesquisas recentes destacam que os efeitos da radiação são menores do que se imaginava para mamíferos de grande porte. O impacto individual é compensado pela ausência de humanos e predadores, permitindo que populações de cães e pequenos mamíferos permaneçam estáveis. Apenas organismos de ciclos rápidos, como algumas bactérias, mostram sinais mais evidentes de adaptação à radiação.
Enquanto os “cães azuis” geraram curiosidade, a ciência mostra que o verdadeiro fenômeno é a resiliência da vida em um ambiente inóspito, revelando comportamentos, genética e ecologia surpreendentes que podem informar estudos de conservação e saúde animal.

