Os data centers, fundamentais para a expansão da inteligência artificial e da economia digital, estão passando por uma transformação química. Recentes mudanças nos Estados Unidos aceleram a aprovação de novos produtos químicos, incluindo substâncias persistentes conhecidas como PFAS, também chamadas de “químicos eternos”. Essa estratégia visa aumentar a eficiência e a competitividade tecnológica, mas levanta sérias questões sobre impactos ambientais e riscos à saúde pública.
O foco da iniciativa são substâncias usadas no resfriamento por imersão, técnica que submerge racks de servidores em líquidos isolantes que economizam energia e reduzem a necessidade de ventiladores e bombas. Entre os principais pontos do cenário atual, destacam-se:
- Redução de até 90% no consumo de energia em data centers modernos;
- Diminuição de custos operacionais a longo prazo;
- Uso de líquidos contendo PFAS, com potencial persistente e bioacumulativo;
- Pressão para aprovação rápida, beneficiando fabricantes de semicondutores;
- Riscos para saúde humana, incluindo aumento do risco de câncer e efeitos reprodutivos;
Resfriamento por imersão e alerta ambiental

O resfriamento por imersão bifásico representa a vanguarda da economia de energia em data centers. Ao reduzir a dependência de ventiladores e bombas, ele diminui significativamente o consumo de eletricidade e a emissão de calor residual. No entanto, muitos dos líquidos utilizados contêm compostos de flúor e carbono, característicos de PFAS, que são altamente persistentes no ambiente. A exposição crônica a essas substâncias tem sido associada a efeitos adversos, incluindo supressão imunológica e impactos reprodutivos.
Pressão da indústria e aceleração regulatória
A EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) está priorizando a revisão de produtos químicos usados em projetos de data centers com capacidade superior a 100 megawatts ou considerados estratégicos para segurança nacional. A combinação de demanda crescente por chips de semicondutores e a expansão de data centers cria um cenário de forte pressão política, podendo reduzir o tempo de avaliação detalhada de riscos químicos.

Essa aceleração beneficia fabricantes que dependem de químicos persistentes para processos de fotolitografia, essenciais na fabricação de wafers de silício. No entanto, a rapidez do processo levanta a questão: a competitividade tecnológica justifica o potencial impacto à saúde pública e aos ecossistemas?
Impactos e dilemas para saúde e meio ambiente
PFAS e outros líquidos usados em resfriamento podem contaminar água, solo e ar, além de bioacumular em organismos. O uso desses químicos sem supervisão rigorosa aumenta a exposição humana e ambiental, especialmente considerando que microgotículas ou vazamentos podem migrar pelo ambiente. O desafio é equilibrar a eficiência energética e inovação tecnológica com a proteção da saúde e sustentabilidade ambiental.
A implementação de políticas que combinem economia circular, substituição de PFAS por alternativas seguras e avaliação contínua de risco é essencial. O debate atual evidencia a necessidade de transparência, pesquisa baseada em evidências e regulamentação robusta, garantindo que a expansão digital não comprometa a saúde pública e os ecossistemas.

