Como o CO₂ pode transformar o que você come em risco à saúde

CO₂ elevado deixa alimentos mais calóricos e menos nutritivos. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
CO₂ elevado deixa alimentos mais calóricos e menos nutritivos. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O aumento contínuo de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera não altera apenas o clima, ele está modificando a qualidade dos alimentos que consumimos diariamente. Pesquisas recentes publicadas na revista Global Change Biology mostram que culturas essenciais, como arroz, trigo, batata e tomate, estão se tornando mais calóricas, porém menos nutritivas, reduzindo minerais vitais e proteínas.

De acordo com os estudos, essa mudança nutricional pode afetar até populações que já possuem acesso suficiente à alimentação, abrindo caminho para problemas de desnutrição oculta.

  • Redução de ferro e zinco, essenciais para a função imunológica;
  • Diminuição de proteínas vegetais, fundamentais para crescimento e manutenção muscular;
  • Aumento de calorias, favorecendo risco de obesidade;
  • Possível elevação de substâncias tóxicas, como mercúrio e chumbo;
  • Impacto potencial na saúde global, mesmo com alimentos disponíveis.

Impacto nutricional do aumento de CO₂ atmosférico: mais calorias, menos benefícios

Ao comparar dados de mais de 40 culturas cultivadas sob diferentes níveis de CO₂, os pesquisadores identificaram uma relação linear: se o CO₂ atmosférico dobra, o efeito sobre os nutrientes também dobra. Isso significa que mesmo pequenas elevações de CO₂ podem reduzir significativamente minerais e proteínas essenciais, enquanto o conteúdo calórico aumenta, criando um paradoxo nutricional.

Nutrientes essenciais caem enquanto calorias aumentam na dieta global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Nutrientes essenciais caem enquanto calorias aumentam na dieta global. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

O arroz e o trigo, principais fontes de alimentação global, estão entre os mais afetados. Essa diminuição no valor nutricional pode comprometer a saúde de bilhões de pessoas, mesmo em cenários com oferta alimentar suficiente.

O cenário futuro e a segurança nutricional

Atualmente, os níveis de CO₂ já ultrapassaram 425 ppm e podem atingir 550 ppm nas próximas décadas. Se esse aumento continuar, muitos alimentos consumidos como “saudáveis” podem não fornecer nutrientes suficientes, forçando ajustes na dieta global. A segurança alimentar, portanto, não se limita à quantidade de comida disponível, mas inclui a qualidade nutricional dessa comida.

Essa realidade sugere que já estamos enfrentando uma dieta menos nutritiva do que décadas atrás, e medidas de adaptação são urgentes. Estratégias como cultivo em estufas, seleção de variedades mais resistentes e inovação agrícola podem mitigar os efeitos do CO₂.

A ciência como guia para soluções

O estudo de Leiden reforça a importância de pesquisas contínuas sobre o impacto do CO₂ nos alimentos e na saúde humana. Com base nos dados, é possível desenvolver intervenções agrícolas e políticas nutricionais para garantir que a população não apenas tenha acesso a calorias, mas também aos nutrientes essenciais.Enquanto isso, consumidores e profissionais de saúde precisam estar atentos à qualidade dos alimentos, priorizando diversidade na dieta e fontes ricas em minerais e proteínas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.