Cometa ou não? Pesquisa levanta dúvidas sobre o que realmente é o objeto 3I/ATLAS

3I/ATLAS desafia cientistas com jatos de gelo e metais raros (Imagem: Fala Ciência via Gemini)
3I/ATLAS desafia cientistas com jatos de gelo e metais raros (Imagem: Fala Ciência via Gemini)

O 3I/ATLAS, terceiro objeto conhecido a cruzar o Sistema Solar vindo de outra estrela, voltou a chamar atenção da comunidade científica. Diferente dos cometas típicos do nosso sistema, ele apresenta atividade de criovulcanismo e uma composição química rica em metais, características pouco comuns em corpos gelados. Esses detalhes despertaram questionamentos sobre sua verdadeira natureza: será um cometa, um asteroide, ou algo totalmente diferente?

Um estudo recente publicado na revista Astronomy & Astrophysics analisou imagens de alta resolução do 3I/ATLAS e identificou jatos de material emergindo de regiões específicas do seu núcleo. Esses jatos lembram vulcões de gelo, fenômeno conhecido como criovulcanismo, que ocorre quando gases e materiais congelados escapam do interior do objeto. Embora o fenômeno seja raro, ele já foi observado em alguns cometas do Sistema Solar. Principais características observadas:

  • Jatos de gás e poeira lançados da superfície;
  • Composição química atípica, com alta concentração de metais;
  • Presença de coma e cauda, típicas de cometas;
  • Órbita hiperbólica, indicando passagem única pelo Sistema Solar.

Esses sinais diferenciam o 3I/ATLAS de seu antecessor interestelar, o 1I/‘Oumuamua, classificado como asteroide por não apresentar coma nem cauda. Em comparação, o 2I/Borisov exibiu comportamento claramente cometário. O 3I/ATLAS, portanto, combina elementos familiares de cometas com propriedades únicas, tornando a classificação mais complexa.

O debate sobre sua classificação

O cometa 3I/ATLAS exibe jatos na superfície, sugerindo atividade de criovulcanismo (Imagem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)
O objeto 3I/ATLAS exibe jatos na superfície, sugerindo atividade de criovulcanismo (Imagem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)

Apesar das características incomuns, especialistas enfatizam que o 3I/ATLAS continua sendo classificado como cometa, devido à presença de coma e cauda. No entanto, sua atividade incomum e a composição rica em metais abrem espaço para futuras revisões ou subdivisões dentro da categoria de cometas. Assim como Plutão e Ceres passaram por reclassificações, o estudo de objetos interestelares pode expandir nossa compreensão das categorias tradicionais de corpos celestes.

A aproximação do 3I/ATLAS com a Terra, a cerca de 270 milhões de quilômetros, permite observações detalhadas, mas não altera fundamentalmente nosso conhecimento sobre o objeto. Após interações gravitacionais com Júpiter, ele seguirá de volta ao espaço interestelar, sem chances de retorno.

O futuro das descobertas interestelares

A expectativa é que telescópios modernos, como o Vera C. Rubin, descubram pelo menos um objeto interestelar por ano, ampliando significativamente o número de corpos disponíveis para estudo. A identificação da estrela de origem do 3I/ATLAS seria um avanço extraordinário, mas permanece extremamente difícil. Por enquanto, cada observação oferece insights valiosos sobre a diversidade de cometas e asteroides fora do Sistema Solar, reforçando que o espaço interestelar ainda guarda muitos enigmas.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.