A chegada do 3I/ATLAS, apenas o terceiro objeto interestelar já confirmado, despertou enorme interesse na comunidade científica. Ao atingir 57 km/s após seu periélio, o cometa ultrapassou com folga a capacidade do Sol de retê-lo, oferecendo uma oportunidade inédita para estudar como esses corpos entram, aceleram e se despedem do Sistema Solar.
Além disso, as observações combinadas do Hubble, do Telescópio Espacial James Webb e de modelos recém-publicados aprofundam o entendimento sobre o comportamento gravitacional desses viajantes raríssimos. Seguem pontos-chave sobre o fenômeno:
- O 3I/ATLAS se move acima da velocidade de escape em toda sua passagem;
- Rota hiperbólica confirma origem fora do Sistema Solar;
- simulações recentes investigam cenários de impacto extremamente improváveis;
- Objetos interestelares podem cruzar nossa vizinhança com mais frequência do que se imaginava.
Quando a gravidade do Sol se torna uma catapulta
A dinâmica do 3I/ATLAS mostra que ele não descreve uma órbita fechada. Em vez disso, cruza o Sistema Solar, sofre um desvio gravitacional e segue seu caminho para sempre em direção ao meio interestelar. A análise computacional indica que sua velocidade excede, de forma permanente, o limite necessário para que qualquer corpo seja capturado pelo Sol, característica típica de uma órbita hiperbólica.

Um estudo publicado em novembro criou um conjunto de 26 bilhões de trajetórias sintéticas, incorporando gravidade solar, perturbações planetárias e o movimento de estrelas anãs próximas. Embora o risco real de impacto seja praticamente nulo, os modelos são fundamentais para compreender velocidades de entrada, direções prováveis e os efeitos de fluxos estelares que atravessam a galáxia.
As simulações sugerem que um objeto semelhante ao 3I/ATLAS poderia penetrar na atmosfera terrestre a cerca de 72 km/s, muito acima dos meteoros típicos. Para efeito de comparação, meteoroides comuns entram a 11–30 km/s, enquanto o evento de Chelyabinsk ocorreu a aproximadamente 19 km/s. Essa diferença mostra o potencial destrutivo de um impacto hipotético, caso ocorresse.
Um laboratório natural para estudar outros sistemas planetários
O 3I/ATLAS funciona como um verdadeiro laboratório móvel, ajudando a compreender as interações gravitacionais entre o Sol e objetos externos, a influência dos fluxos estelares na estrutura das bordas do Sistema Solar e a diversidade de materiais que formam pequenos corpos originados em outras estrelas. Sua passagem reforça que vivemos em uma região permeável, constantemente atravessada por fragmentos vindos de partes remotas da galáxia.

