Cometa 3I/ATLAS libera jatos de gelo e deixa astrônomos perplexos

Jatos de gelo revelam atividade intensa no cometa interestelar 3I/ATLAS (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Jatos de gelo revelam atividade intensa no cometa interestelar 3I/ATLAS (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Um fenômeno impressionante acaba de ganhar destaque na astronomia: novas imagens indicam que o cometa 3I/ATLAS, um objeto interestelar que atravessa o Sistema Solar, exibe jatos de gelo e poeira similares a verdadeiros criovolcões. Esse comportamento incomum não apenas desperta curiosidade, como também amplia nossa compreensão sobre a química e a formação de mundos distantes.

À medida que o cometa se aproximou do Sol, sua superfície começou a liberar estruturas espirais e jatos brilhantes, sugerindo uma atividade interna mais complexa do que se imaginava. Esse aquecimento desencadeou a sublimação de materiais aprisionados no interior do corpo celeste, revelando processos semelhantes aos observados em objetos gelados que orbitam além de Netuno. Principais destaques iniciais:

  • Jatos criovulcânicos foram identificados nas imagens mais recentes;
  • A atividade lembra processos típicos de corpos transnetunianos;
  • A análise espectral aponta composição próxima à de condritos carbonáceos antigos;
  • O cometa preserva informações valiosas sobre sistemas estelares primitivos;
  • Trata-se do terceiro objeto interestelar já registrado na história.

Um retrato raro de um cometa vindo de outro sistema

Imagens mostram criovulcões ativos em um raro visitante de outra estrela (Imagem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)
Imagens mostram criovulcões ativos em um raro visitante de outra estrela (Imagem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)

O 3I/ATLAS tornou-se foco de vários observatórios após a divulgação preliminar do estudo no arXiv, indicando que sua composição pode se assemelhar à de corpos gelados formados nas bordas do Sistema Solar. Embora sua origem exata seja desconhecida, sua trajetória hiperbólica confirma que ele veio de muito além, carregando pistas químicas de ambientes formados em outra estrela.

Durante sua aproximação ao periélio, o cometa entrou em um período de sublimação intensa, liberando jatos de poeira e partículas que puderam ser detectados com riqueza de detalhes. A análise sugere que o aquecimento ativou reações envolvendo gelo seco, metais e compostos oxidantes, gerando a expulsão vigorosa de material, um mecanismo coerente com fenômenos de criovulcanismo.

O que os jatos revelam sobre a história do 3I/ATLAS

Para compreender melhor a composição do visitante, a equipe comparou seus espectros com meteoritos muito antigos coletados na Antártida, os condritos carbonáceos. Essas rochas são consideradas cápsulas químicas dos primórdios do Sistema Solar e carregam materiais que provavelmente contribuíram para a formação da atmosfera terrestre. A semelhança entre esses meteoritos e o cometa reforça a ideia de que o 3I/ATLAS abriga elementos preservados por bilhões de anos.

Fenômeno explosivo no 3I/ATLAS expõe segredos de mundos distantes (Iamgem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)
Fenômeno explosivo no 3I/ATLAS expõe segredos de mundos distantes (Iamgem: Josep M. Trigo-Rodríguez/Observatório B06 Montseny)

Além disso, estimativas feitas com dados do Telescópio Espacial Hubble sugerem que o cometa pode medir entre 440 metros e 5,6 quilômetros. Caso sua densidade rocheda se confirme, sua massa pode ultrapassar centenas de milhões de toneladas, um volume significativo para um objeto que viajou incontáveis distâncias no espaço interestelar.

Uma cápsula do tempo cósmica em trânsito

Mesmo sem oferecer risco à Terra, o 3I/ATLAS desempenha um papel crucial para a ciência. Objetos interestelares funcionam como mensageiros cósmicos, trazendo informações impossíveis de obter apenas com corpos do Sistema Solar. Cada jato de gelo expelido é, na prática, um fragmento de outro mundo sendo entregue aos telescópios terrestres.

Esse cometa, portanto, não é apenas um visitante exótico. Ele é uma peça-chave para desvendar como sistemas estelares se formam, como evoluem e como distribuem matéria orgânica pelo Universo.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.