O consumo de alimentos ultraprocessados tem crescido em ritmo acelerado, e a ciência começa a mapear com mais clareza os riscos escondidos nesse padrão alimentar. Um estudo publicado na JAMA Oncology, conduzido por mais de duas décadas e liderado por pesquisadores que analisaram 29 mil mulheres, revela uma associação preocupante: a ingestão elevada desses produtos pode aumentar significativamente a formação de pólipos no cólon, estruturas pré-cancerígenas que antecedem o câncer colorretal.
Um risco que cresce de acordo com o consumo
Ao longo de 1991 a 2015, o estudo avaliou mulheres entre 20 e 40 anos e identificou que aquelas que consumiam, em média, 10 porções diárias de ultraprocessados apresentavam um risco 45% maior de desenvolver pólipos no cólon quando comparadas às que consumiam apenas 3 porções por dia. Esses pólipos podem ser removidos quando identificados precocemente, porém, quando evoluem sem tratamento, têm potencial para se transformar em tumores malignos.
Esse padrão de risco crescente reforça a necessidade de atenção à qualidade da dieta em fases jovens da vida, já que o câncer colorretal vem aumentando entre adultos abaixo dos 50 anos.
O que caracteriza um ultraprocessado?

Esses produtos passam por diversas etapas industriais e incluem ingredientes artificiais que não aparecem na cozinha doméstica. Entre eles estão:
- Corantes e aromatizantes artificiais
- Conservantes químicos
- Emulsificantes como óleos hidrogenados
- Adoçantes como xarope de milho rico em frutose
Fazem parte dessa categoria itens como salgadinhos de pacote, refrigerantes, doces industrializados, refeições congeladas, embutidos e produtos prontos para consumo.
Como esses alimentos afetam o organismo
O estudo sugere que os ultraprocessados podem comprometer o equilíbrio das bactérias do intestino e danificar o revestimento que protege a mucosa intestinal. Esse desequilíbrio abre caminho para inflamações e alterações celulares que facilitam o surgimento de pólipos.
Além disso, a composição desses produtos frequentemente combina açúcar, gorduras refinadas e aditivos capazes de alterar o ambiente intestinal. A longo prazo, esse cenário pode favorecer o desenvolvimento de lesões que antecedem tumores.
Nem todo ultraprocessado é igual
Embora os riscos sejam reais, esses alimentos não atuam de forma homogênea. O estudo destaca que existem produtos industrializados com valores nutricionais positivos, como iogurtes, cereais matinais fortificados e pães integrais. Eles fornecem fibras, vitaminas e minerais que contribuem para a proteção do cólon.
Esse ponto reforça que a avaliação deve considerar a qualidade do alimento e não apenas sua categoria.
Limitações e necessidade de novos dados
Por ter sido realizado com um grupo específico formado majoritariamente por enfermeiras brancas, o estudo ainda requer replicação em outras populações para que os resultados sejam universalizados. Mesmo assim, seus achados alinham-se a diversas pesquisas anteriores que investigam os impactos dos ultraprocessados no organismo.
Enquanto novas respostas não chegam, a recomendação é priorizar alimentos frescos, ricos em fibras e minimamente processados é uma estratégia simples e eficaz para reduzir riscos a longo prazo.

