Cólera: a antiga ameaça que ainda resiste no século 21

Bactéria Vibrio cholerae sobrevive em ambientes aquáticos. (Foto: TrueCreatives via Canva)
Bactéria Vibrio cholerae sobrevive em ambientes aquáticos. (Foto: TrueCreatives via Canva)

A cólera, doença frequentemente associada à Idade Média, nunca desapareceu de fato. Causada pela bactéria Vibrio cholerae, ela continua circulando silenciosamente e, de tempos em tempos, retorna em surtos devastadores, especialmente em regiões com infraestrutura precária, falta de água potável e baixa cobertura vacinal.

De acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 460 mil casos e quase 6 mil mortes por cólera foram registrados apenas entre janeiro e agosto de 2025, em 32 países. Esses números revelam que, apesar dos avanços médicos, a doença ainda representa uma séria ameaça à saúde pública global.

Como a cólera se espalha e por que ela ainda existe

A transmissão ocorre principalmente por contato fecal-oral, através da ingestão de água ou alimentos contaminados.

O Vibrio cholerae pode sobreviver em ambientes aquáticos por longos períodos, o que torna o controle ainda mais desafiador. Mesmo pessoas assintomáticas, ou seja, que não apresentam sintomas, podem espalhar a bactéria, mantendo o ciclo de transmissão ativo.

Sintomas e riscos da infecção

A maioria dos infectados apresenta sintomas leves ou nenhum sinal aparente, o que dificulta a detecção precoce. No entanto, em casos graves, a doença pode evoluir rapidamente, provocando:

  • Diarreia intensa e aquosa, de início súbito;
  • Náusea e vômito;
  • Desidratação severa;
  • Choque hipovolêmico, quando há perda crítica de líquidos e queda de pressão arterial.

Sem tratamento imediato, o quadro pode levar à morte em poucas horas. Felizmente, a reidratação oral e intravenosa, aliada ao uso de antibióticos adequados, costuma ser eficaz na maioria dos casos quando iniciada a tempo.

Prevenção e desafios atuais

Cólera ainda ameaça países com pouco saneamento básico. (Foto: Getty Images via Canva)
Cólera ainda ameaça países com pouco saneamento básico. (Foto: Getty Images via Canva)

Embora existam vacinas orais contra a cólera, sua disponibilidade é limitada, e a cobertura global está muito abaixo do ideal. Além disso, muitas populações em risco vivem em regiões sem acesso regular à imunização.

As medidas preventivas mais eficazes ainda são simples, porém desiguais no acesso:

  • Garantir saneamento básico e água potável;
  • Lavar bem os alimentos e evitar o consumo de água não tratada;
  • Manter higiene pessoal rigorosa, principalmente das mãos.

Enquanto essas condições não forem garantidas globalmente, a cólera continuará encontrando espaço para se manifestar.

Apesar de sua origem datar do século 12, a cólera segue como uma doença moderna, impulsionada por desigualdades e falhas estruturais. Ela lembra ao mundo que avanços científicos não bastam sem justiça social. Controlar a cólera é, acima de tudo, garantir dignidade e acesso à vida saudável para todos.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.