O avanço contínuo da temperatura média global está levando o planeta para um cenário que ultrapassa limites considerados seguros pela ciência. No contexto da COP30, análises recentes indicam que o mundo está muito próximo de exceder o marco de 1,5 °C, caminhando para quase 3 °C neste século. No entanto, o alerta mais crítico recai sobre o Brasil: por estar em uma região tropical continental, o país pode vivenciar um aquecimento entre 4 °C e 4,5 °C, quase o dobro da média global. Esse salto térmico coloca ecossistemas, cidades e populações vulneráveis sob uma pressão inédita.
Para facilitar a compreensão, veja alguns riscos diretos desse aquecimento projetado:
- Intensificação de ondas de calor e maior mortalidade associada;
- Incêndios florestais mais longos e difíceis de controlar;
- Tempestades extremas e prejuízos ampliados à infraestrutura;
- Aumento de desigualdades sociais em regiões vulneráveis;
- Comprometimento de povos indígenas e economias frágeis.
Caminhos que podem conter a escalada térmica
Os estudos mais recentes publicados em revistas como Nature Climate Change e Environmental Research Letters mostram que somente reduzir emissões futuras já não é suficiente. Torna-se essencial ampliar estratégias de remoção de dióxido de carbono (CO₂) acumulado na atmosfera ao longo das últimas décadas. Entre as propostas discutidas, a restauração ecológica em larga escala aparece como ferramenta promissora, já que reconstituir florestas ajuda a reativar ciclos naturais de sequestro de carbono.

Entretanto, a ciência atual reconhece que nenhuma tecnologia disponível consegue operar na escala necessária para compensar a continuidade do uso de combustíveis fósseis. Os custos por tonelada de CO₂ retirada ainda são extremamente elevados, o que reforça a urgência de uma transição energética rápida e justa, com foco na substituição de fontes fósseis por alternativas limpas e sustentáveis.
Por que a adaptação precisa caminhar junto da redução?
Além das soluções para reduzir emissões, cresce o consenso de que o país precisa fortalecer medidas de adaptação climática. Cada incremento de 0,1 °C no aquecimento amplia de forma significativa a intensidade de chuvas extremas, estiagens prolongadas e outros eventos que já pressionam o território nacional. Esse avanço das mudanças climáticas afeta, de modo desproporcional, populações vulneráveis e biomas-chave como a Amazônia e o Cerrado, cuja estabilidade é fundamental para o regime de chuvas do continente.
Assim, ampliar projetos de restauração ecológica, proteger áreas naturais, planejar cidades mais resilientes e acelerar políticas de baixo carbono se tornam caminhos complementares e indispensáveis para evitar que o Brasil ultrapasse um ponto de impacto irreversível.
Um país no centro da transformação climática
O cenário projetado coloca o Brasil como um dos países mais sensíveis ao aumento da temperatura global. Mesmo assim, o país possui potencial científico, ambiental e tecnológico para liderar soluções inovadoras, desde que haja coordenação política, investimentos consistentes e um plano de descarbonização robusto. A janela de ação ainda existe, mas diminui rapidamente.

