Clima global pode virar de forma abrupta com chegada da La Niña fraca

La Niña fraca pode aquecer o planeta e mudar chuvas no Brasil. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
La Niña fraca pode aquecer o planeta e mudar chuvas no Brasil. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

A possível instalação de um La Niña fraco entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026 reacende a atenção de climatologistas e setores dependentes de previsões sazonais. Embora o fenômeno costume resfriar temporariamente o planeta, modelos recentes indicam que as temperaturas globais devem continuar acima da média, contrariando expectativas intuitivas e reforçando o peso do aquecimento de longo prazo. Para facilitar a compreensão do cenário, alguns pontos se destacam:

  • Chance estimada de 55% de formação de uma La Niña fraca;
  • Resfriamento concentrado no Pacífico Equatorial Central e Leste;
  • Impactos distribuídos de forma desigual entre hemisférios e continentes.

Um Pacífico que esfria, um planeta que continua quente

A La Niña surge quando as águas superficiais do Pacífico equatorial resfriam cerca de 0,5°C ou mais, reorganizando ventos, chuvas e a circulação atmosférica tropical. Contudo, mesmo com esse resfriamento, projeções apontam que vastas regiões do Hemisfério Norte e amplas áreas do Hemisfério Sul permanecerão mais quentes que o normal, especialmente devido à tendência global de aquecimento registrada em análises recentes e apontada em periódicos como Nature Climate Change e Journal of Climate.

Essa combinação cria um panorama paradoxal: um oceano que esfria moderadamente enquanto a atmosfera mantém níveis elevados de calor acumulado.

Temperaturas elevadas e chuvas desiguais: o que esperar

Clima instável à vista: resfriamento no Pacífico não impede calor. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Clima instável à vista: resfriamento no Pacífico não impede calor. (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Nos próximos meses, a resposta atmosférica típica do fenômeno deve ocorrer, porém de maneira mais suave. Espera-se que áreas tropicais e subtropicais sintam com maior intensidade essa reorganização climática. A previsão indica:

  • Chuvas mais frequentes no Norte e no Nordeste do Brasil;
  • Frio atípico em momentos isolados do Sudeste;
  • Tempo mais seco no Sul, com risco de estiagens localizadas.

Mesmo assim, modelos sazonais sugerem temperaturas acima da média em boa parte do Hemisfério Sul, incluindo o Brasil, principalmente no Norte, Nordeste e extremo Sul.

Transição para neutralidade e impacto na rotina climática do Brasil

A tendência é que o fenômeno perca força gradualmente. Entre janeiro e abril de 2026, cresce a probabilidade de retorno à fase neutra do ENOS, enquanto o risco de um El Niño emergir é considerado muito baixo. Essa transição reduz parte dos extremos, mas não anula a influência do aquecimento global, que continua moldando a intensidade de secas, chuvas e ondas de calor.

Com 2025 projetado para terminar entre os anos mais quentes já observados, previsões como essa se tornam essenciais para agricultura, saúde pública, gestão de riscos e planejamento energético. A chamada inteligência climática se consolida como ferramenta estratégica para antecipar perdas e proteger populações vulneráveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.