Cientistas querem “bloquear o Sol” para esfriar a Terra, mas o risco é alto

SRM pode resfriar o planeta, mas não substitui cortes de emissões (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
SRM pode resfriar o planeta, mas não substitui cortes de emissões (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Pesquisas recentes sugerem que técnicas de modificação da radiação solar (SRM) podem ajudar a resfriar o planeta, refletindo parte da luz solar de volta ao espaço. Apesar disso, especialistas alertam que essas abordagens não substituem a necessidade urgente de reduzir emissões de gases de efeito estufa. O relatório da Royal Society, publicado em 2025, oferece uma análise detalhada sobre eficácia, riscos e limitações da SRM, enfatizando que os efeitos regionais ainda são altamente incertos.

  • A SRM poderia diminuir a temperatura média global se implementada de forma coordenada;
  • Não resolve impactos climáticos causados por gases de efeito estufa;
  • Técnicas estudadas incluem injeção de aerossóis estratosféricos e clareamento de nuvens marinhas;
  • Implementação parcial pode alterar padrões de precipitação e causar impactos desiguais;
  • Interrupção abrupta da SRM poderia aumentar temperaturas globais em até 2°C.

Como a SRM funcionaria na prática

Duas técnicas principais recebem maior atenção científica: Injeção de Aerossóis Estratosféricos (SAI), que libera partículas refletoras na alta atmosfera, e Clareamento de Nuvens Marinhas (MCB), que aumenta a refletividade de nuvens sobre os oceanos. Entre elas, a SAI é considerada mais viável, tanto em termos técnicos quanto de compreensão de seus efeitos climáticos.

Técnicas solares refletem luz, ajudando clima, mas riscos persistem (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)
Técnicas solares refletem luz, ajudando clima, mas riscos persistem (Imagem: Gerada por IA/ Canva Pro)

A SRM atua apenas como uma máscara temporária para o aquecimento, sem eliminar a causa principal das mudanças climáticas. Portanto, mesmo com sua aplicação global coordenada, outros impactos, como alterações nos padrões de chuva e clima regional, permanecem difíceis de prever.

Riscos e desafios da implementação

Apesar do potencial de reduzir temperaturas médias globais, a SRM enfrenta desafios técnicos e de governança complexos. Estudos indicam que a maneira, o local e a intensidade da aplicação influenciam diretamente os impactos regionais.

Uma interrupção abrupta do sistema poderia gerar um efeito de término, com aumentos rápidos de temperatura que colocariam ecossistemas e populações em risco.

Além disso, qualquer aplicação da SRM exige compromissos globais de longo prazo, monitoramento contínuo e acordos internacionais para minimizar consequências indesejáveis.

SRM como complemento, não solução

O relatório da Royal Society deixa claro que a gestão sustentável da radiação solar não substitui políticas de mitigação climática, mas pode servir como uma ferramenta complementar para reduzir riscos. Estratégias de redução de emissões permanecem fundamentais para limitar o aquecimento a níveis seguros, enquanto a SRM poderia ajudar a ganhar tempo e reduzir impactos imediatos do aquecimento global.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.