Cientistas observam 3I/ATLAS emitindo raios X inesperados próximo à Terra

Cometa 3I/ATLAS emite raios X, fenômeno inédito em visitantes interestelares (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Cometa 3I/ATLAS emite raios X, fenômeno inédito em visitantes interestelares (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

O cometa 3I/ATLAS, recém-descoberto, surpreendeu astrônomos ao emitir raios X, um fenômeno nunca antes registrado em objetos interestelares. Esse tipo de radiação, normalmente associada a buracos negros, supernovas e eventos extremamente energéticos, agora foi detectado em um corpo que atravessa o Sistema Solar pela primeira vez.

Quase três décadas após a primeira observação de raios X em cometas, o 3I/ATLAS demonstra que mesmo visitantes de outros sistemas estelares podem interagir de forma intensa com o ambiente solar. Principais descobertas da observação do 3I/ATLAS:

  • A emissão de raios X se estende por cerca de 400 mil km ao redor do cometa;
  • Identificação de carbono, nitrogênio e oxigênio na radiação, confirmando sua origem;
  • Capturas feitas pelo telescópio XRISM, operado pelo Japão e ESA;
  • Observações realizadas entre 26 e 28 de novembro, totalizando 17 horas de monitoramento.

Como os cometas produzem raios X?

Embora inédita em visitantes interestelares, a emissão de raios X por cometas é um fenômeno natural, que ocorre quando o plasma solar, composto por partículas carregadas em alta velocidade, colide com a coma, a atmosfera temporária formada por gás e poeira ao redor do núcleo do cometa. 

Observações do XRISM revelam composição e brilho de cometa interestelar (Imagem: JAXA/DSS/eROSITA/MAXI)
Observações do XRISM revelam composição e brilho do cometa 3I/ATLAS (Imagem: JAXA/DSS/eROSITA/MAXI)

Essas colisões arrancam elétrons dos átomos presentes na coma, aceleram as partículas solares a energias extremamente altas e produzem radiação de alta energia, visível como raios X. O que torna o 3I/ATLAS especialmente singular é que ele é muito mais rápido, ativo e antigo do que os outros visitantes interestelares conhecidos, como 1I/‘Oumuamua e 2I/Borisov, oferecendo uma nova perspectiva sobre a interação entre o plasma solar e materiais originários de fora do Sistema Solar.

Observações futuras e aproximação da Terra

Agora que o cometa se afastou do brilho intenso do Sol, os telescópios podem monitorá-lo com segurança. O 3I/ATLAS deverá chegar a aproximadamente 270 milhões de km da Terra em 19 de dezembro, o que permitirá estudos mais detalhados e novas imagens do objeto. 

Com essas observações, os cientistas esperam compreender melhor a composição química de corpos interestelares, como materiais de outros sistemas estelares interagem com o Sol e os mecanismos responsáveis pela emissão de raios X em cometas ativos. Esse fenômeno reforça a importância de telescópios como o XRISM e de futuras missões de exploração do cosmos, enquanto o 3I/ATLAS continua sua trajetória pelo Sistema Solar.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.