Cientistas identificam falha oculta no cérebro que dispara depressão silenciosa

Falta de ATP no cérebro pode causar depressão e ansiedade. (Foto: Getty Images e Oksanavectorart via Canva)
Falta de ATP no cérebro pode causar depressão e ansiedade. (Foto: Getty Images e Oksanavectorart via Canva)

Uma nova linha de pesquisa acaba de apontar um possível gatilho biológico para depressão e ansiedade que não envolve hormônios, traumas ou genética. Segundo um estudo publicado no JNeurosci, liderado por Tian-Ming Gao e pesquisadores da Southern Medical University, um tipo específico de falha energética dentro do hipocampo pode ser suficiente para desencadear alterações emocionais profundas. 

O que antes parecia invisível aos olhos da ciência agora começa a ser revelado: o cérebro depende de uma molécula-chave, o ATP, não apenas para energia, mas também para manter o equilíbrio emocional.

Momento em que a energia cerebral começa a falhar

O ATP é amplamente conhecido como o combustível das células, mas o estudo revelou que ele também atua como um mensageiro essencial na comunicação entre neurônios. No hipocampo, região ligada ao processamento do estresse, memória e regulação emocional, esse sinal energético precisa funcionar de forma precisa para manter o humor estável.

Os pesquisadores observaram que, sob estresse contínuo, os níveis de ATP diminuem de forma significativa. Essa queda altera a comunicação entre as células e interfere na maneira como o cérebro responde ao mundo ao redor. Nos experimentos, camundongos com menor sinalização de ATP exibiram comportamentos equivalentes à depressão e ansiedade, sugerindo que o desequilíbrio energético pode ter impacto direto nas emoções.

A proteína que decide como o cérebro regula o humor

Proteína conexina 43 é chave para manter o humor estável. (Foto: Liandra Design via Canva)
Proteína conexina 43 é chave para manter o humor estável. (Foto: Liandra Design via Canva)

Para entender por que o ATP caiu tanto nessas situações, os cientistas analisaram uma proteína chamada conexina 43, responsável por liberar ATP entre determinadas células. A descoberta foi clara: quando essa proteína diminui, o ATP também despenca, e o comportamento emocional muda.

O estudo demonstrou três achados importantes:

  • Estresse prolongado reduziu tanto o ATP quanto a conexina 43.
  • Mesmo sem estresse, a simples redução da conexina 43 foi suficiente para causar sintomas emocionais.
  • Ao restaurar a conexina 43 no hipocampo, os níveis de ATP voltaram ao normal, assim como o comportamento dos animais.

Esse conjunto de resultados indica que a sinalização energética pode ter papel central tanto na depressão quanto na ansiedade, abrindo caminho para tratamentos que vão além dos neurotransmissores tradicionais.

Uma via biológica comum entre depressão e ansiedade

O estudo, intitulado “Um sinal oculto de energia cerebral impulsiona a depressão e a ansiedade”, mostra que a redução na liberação de ATP no hipocampo pode representar um mecanismo compartilhado entre as duas condições. Isso é especialmente relevante porque depressão e ansiedade frequentemente aparecem juntas e podem ser difíceis de tratar simultaneamente.

Com a identificação dessa via molecular, surge a possibilidade de desenvolver terapias capazes de restaurar a sinalização energética do cérebro, oferecendo novas alternativas para pacientes que não respondem bem aos tratamentos atuais.

Importância da descoberta

Esse avanço científico amplia a compreensão sobre a biologia das emoções e mostra que o humor pode ser profundamente influenciado pela forma como o cérebro produz e compartilha energia. Agora, a ciência tem mais um alvo para explorar em busca de intervenções eficazes e personalizadas.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.