O olfato humano é um dos sentidos mais complexos e menos compreendidos pela ciência. Por décadas, acreditava-se que cada aroma fosse percebido por meio da ativação de vários receptores olfativos simultaneamente, o chamado “modelo combinatório”.
No entanto, um novo estudo publicado na revista Current Biology indica que o processo pode ser bem mais específico do que se imaginava.
Pesquisa redefine a forma como percebemos os aromas
Pesquisadores suíços conseguiram superar uma das maiores barreiras da área: a baixa expressão de receptores olfativos (ROs) em laboratório. Ao ajustar uma parte estrutural desses receptores, eles aumentaram de forma significativa a sensibilidade das células, permitindo identificar novas ligações entre receptores e odores.
Com essa técnica, a equipe conseguiu “desorfanizar” vários receptores, ou seja, descobrir exatamente quais odores eles reconhecem. Entre os compostos testados estavam baunilha, toranja, rosa e âmbar, aromas complexos e muito utilizados em fragrâncias.
Um salto na sensibilidade dos testes

Os resultados mostraram uma melhora de cerca de 100 vezes na sensibilidade em comparação com estudos anteriores. Essa precisão inédita revelou que alguns cheiros específicos podem depender de apenas um receptor principal, em vez de múltiplos.
Isso sugere que o olfato humano pode funcionar de forma mais seletiva e farmacológica, com certos receptores agindo como “chaves” exclusivas para determinados cheiros.
Implicações para ciência e tecnologia
Essa descoberta não apenas amplia o entendimento sobre como identificamos aromas, mas também abre caminho para diversas aplicações práticas:
- Criação de sensores olfativos artificiais mais precisos;
- Detecção de alimentos deteriorados ou contaminantes ambientais;
- Avanços na perfumaria e na indústria alimentícia, com o mapeamento exato de compostos aromáticos.
Apesar do avanço, os cientistas destacam que a técnica ainda precisa ser aprimorada para reproduzir com total fidelidade as condições do olfato humano real. Mesmo assim, o estudo representa um marco na neurociência sensorial, redefinindo como compreendemos o ato de cheirar.