Cientistas descobrem “modo hibernação” que protege o cérebro após lesão

Nova técnica reduz inflamação e salva neurônios. (Foto: Getty Images via Canva)
Nova técnica reduz inflamação e salva neurônios. (Foto: Getty Images via Canva)

Um avanço promissor pode mudar o futuro do tratamento de lesões cerebrais traumáticas. Pesquisadores da Universidade de Tsukuba, no Japão, descobriram uma forma de ativar um estado de hibernação artificial que protege o cérebro e favorece a recuperação motora, tudo isso sem precisar reduzir a temperatura corporal externamente.

Esse estado, induzido pela ativação de um grupo específico de neurônios reguladores da temperatura, levou os camundongos a uma queda reversível da temperatura corporal, preservando os neurônios e diminuindo a inflamação cerebral. O estudo foi publicado no Journal of Neuroscience e abre espaço para terapias mais seguras baseadas nos efeitos neuroprotetores da hipotermia controlada.

Hipotermia natural: o poder da autorregulação do cérebro

Estado de hibernação acelera recuperação cerebral. (Foto: Getty Images via Canva)
Estado de hibernação acelera recuperação cerebral. (Foto: Getty Images via Canva)

A hipotermia terapêutica já é usada em alguns tratamentos médicos para reduzir danos neuronais, especialmente após acidentes ou paradas cardíacas. No entanto, o método tradicional, que depende de resfriamento externo, pode causar complicações graves, como infecções, arritmias e dificuldade de controle térmico.

A novidade da pesquisa japonesa está em induzir a hipotermia de dentro para fora, por meio da ativação natural de neurônios específicos. Assim, o corpo entra em um estado semelhante à hibernação, mas de forma controlada e reversível, sem a necessidade de aparelhos de resfriamento.

Entre os principais resultados observados nos animais, destacam-se:

  • Maior preservação dos neurônios na região lesionada;
  • Redução significativa da inflamação cerebral;
  • Melhor recuperação motora após a lesão.

Esses efeitos indicam que o cérebro pode ser treinado para se proteger, utilizando mecanismos biológicos semelhantes aos dos animais que hibernam naturalmente.

Uma nova fase para a neuroproteção

Os resultados do estudo sugerem que esse tipo de hipotermia natural pode representar uma alternativa mais segura e precisa aos métodos convencionais. Além de proteger o tecido cerebral, a técnica evita os riscos associados ao resfriamento artificial, tornando-se uma promissora ferramenta para o tratamento de traumas e doenças neurológicas.

A equipe científica também destacou que ainda há etapas a serem cumpridas antes que o método seja aplicado em humanos. É necessário definir por quanto tempo e em qual intensidade o estado hipotérmico deve ser mantido, além de realizar testes em animais de maior porte para avaliar a segurança e eficácia do processo.

Mesmo assim, a descoberta abre uma nova fronteira na pesquisa sobre neuroproteção e regeneração cerebral, mostrando que o corpo pode ter meios naturais de se defender e se curar após uma lesão.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

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