Cientistas descobrem DNA gigante na boca que pode impactar imunidade

DNA gigante em bactérias pode afetar imunidade. (Foto: DAPA Images via Canva)
DNA gigante em bactérias pode afetar imunidade. (Foto: DAPA Images via Canva)

Pesquisadores revelaram uma descoberta surpreendente: enormes fragmentos de DNA bacteriano presentes no microbioma oral humano podem ter papel relevante na regulação do sistema imunológico. Esses pedaços, chamados de inóculos, foram identificados em centenas de amostras de saliva, indicando que grande parte da população carrega essas estruturas em suas bocas.

Estruturas misteriosas que desafiam o microbioma

O microbioma oral, composto por bilhões de microrganismos comensais, já é conhecido por sua influência na saúde bucal e no equilíbrio imunológico do corpo. No entanto, a presença de inóculos,  fragmentos de DNA extracromossômico gigantes separados do genoma principal das bactérias, representa uma novidade científica. Diferentemente de plasmídeos comuns, esses elementos são grandes, circulares e codificam funções genéticas ainda pouco compreendidas.

O estudo, publicado na revista Nature Communications, mostrou que aproximadamente 74% dos participantes possuíam esses inóculos. Além disso, observou-se uma correlação entre a quantidade de inóculos e respostas imunológicas, sugerindo que eles podem modular como o corpo reage a infecções bacterianas e virais.

Conexão potencial com doenças graves

Microbioma oral guarda estruturas genéticas inéditas. (Foto: Getty Images via Canva)
Microbioma oral guarda estruturas genéticas inéditas. (Foto: Getty Images via Canva)

Ao comparar amostras de saliva com dados de sangue, os pesquisadores identificaram que pessoas com câncer de cabeça, pescoço ou colorretal apresentavam níveis mais baixos de inóculos em comparação a indivíduos sem essas condições. Essa descoberta abre caminho para que esses fragmentos de DNA sejam explorados como biomarcadores potenciais de doenças, especialmente cânceres relacionados ao trato digestivo e oral.

Além disso, os inóculos podem fornecer novas informações sobre como os microbiomas interagem com o sistema imunológico, ajudando a explicar variações na susceptibilidade a infecções e na resposta a vacinas.

Técnicas inovadoras para identificar inóculos

A detecção desses fragmentos só foi possível graças ao sequenciamento de DNA de leitura longa, que permite mapear trechos maiores de DNA com precisão. Métodos tradicionais de sequenciamento de leitura curta não conseguiam capturar essas estruturas devido ao seu tamanho e complexidade.

Como próximo passo, os cientistas planejam cultivar os inóculos em laboratório, investigando como eles se propagam entre bactérias e potencialmente entre indivíduos. O objetivo é compreender suas funções biológicas e avaliar como poderiam ser utilizados em diagnósticos ou terapias futuras.

A descoberta dos inóculos acrescenta uma peça importante ao quebra-cabeça do microbioma oral, ampliando a compreensão da interação entre bactérias e saúde humana e abrindo novas possibilidades de pesquisa em imunologia e prevenção de doenças.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *