Cientistas descobrem aquecimento inesperado nas regiões mais profundas do Ártico

Águas profundas do Ártico aquecem mais rápido que o esperado. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Águas profundas do Ártico aquecem mais rápido que o esperado. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Enquanto a atenção global se volta para derretimento de gelo e aumento do nível do mar, uma mudança silenciosa ocorre nas camadas mais profundas do Oceano Ártico. Pesquisas recentes indicam que as águas frias de décadas estão aquecendo mais rápido do que se imaginava, revelando que o impacto das mudanças climáticas atinge até os fundos oceânicos.

Cientistas da Universidade Oceânica da China e do Laboratório Laoshan analisaram registros históricos de temperatura e desenvolveram modelos computacionais complexos para compreender a origem desse calor inesperado. O foco principal foi a Bacia Eurasiática, uma das regiões mais profundas do Ártico. Principais pontos do estudo:

  • A taxa de aquecimento nas profundezas da Bacia Eurasiática chega a 0,020°C por década;
  • A Bacia da Groenlândia deixou de fornecer água tão fria quanto antes;
  • O fluxo de água menos fria da Groenlândia aquece a Bacia Eurasiática rapidamente;
  • A Dorsal de Lomonosov atua como barreira, protegendo parcialmente a Bacia Amerásia;
  • A advecção horizontal de calor é o principal mecanismo por trás do aquecimento observado.

O papel das correntes do Atlântico no aquecimento profundo

Mudanças climáticas chegam ao fundo do Oceano Ártico silenciosamente. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
Mudanças climáticas chegam ao fundo do Oceano Ártico silenciosamente. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Os pesquisadores simularam os principais componentes do Oceano Ártico profundo, incluindo a Bacia Amerásia, a Dorsal de Lomonosov e o Estreito de Fram, porta de entrada das águas da Bacia da Groenlândia. A análise mostrou que o aquecimento não é explicado apenas pelo calor geotérmico natural do fundo do oceano.

Na prática, a Bacia da Groenlândia, antes fonte de água fria e densa, agora envia fluxos menos frios à Bacia Eurasiática, aumentando a temperatura em profundidade. Ao mesmo tempo, a Dorsal de Lomonosov impede que essas águas aquecidas atinjam a Bacia Amerásia, criando padrões regionais de aquecimento diferentes.

Consequências ambientais e climáticas

O aumento da temperatura nas camadas profundas do Ártico pode ter efeitos globais significativos. Mudanças nas correntes e nos gradientes de temperatura influenciam o ciclo de nutrientes, a circulação oceânica e o comportamento do gelo marinho.

Além disso, o aquecimento profundo desafia a ideia de que somente a superfície oceânica é vulnerável às mudanças climáticas, ampliando a preocupação com impactos ainda pouco estudados.Esses achados reforçam a necessidade de monitoramento contínuo das águas profundas, integrando medições de temperatura, salinidade e correntes, para melhorar previsões climáticas e avaliar os riscos para ecossistemas marinhos sensíveis.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.