Pesquisas recentes publicadas na revista Science revelam que o pH ácido do microambiente tumoral não é apenas consequência da doença, mas um fator ativo na sobrevivência do câncer. Cientistas do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ) mostraram que ambientes com baixo oxigênio, escassez de nutrientes e acúmulo de resíduos metabólicos favorecem adaptações das células malignas, permitindo que continuem crescendo mesmo em condições extremas.
Esse achado muda a forma como entendemos o câncer: o ambiente ácido atua como combustível, promovendo flexibilidade metabólica e resistência das células tumorais.
Como a acidez altera o metabolismo das células tumorais

O estudo investigou células de câncer pancreático usando edição genética (CRISPR-Cas9) para identificar genes essenciais para a sobrevivência em condições ácidas. Os resultados destacaram que:
- A acidose ativa mecanismos que reprogramam o metabolismo, desviando o uso de glicose para maior aproveitamento das mitocôndrias.
As mitocôndrias se fundem em redes longas e eficientes, otimizando a produção de energia. - A fusão mitocondrial é regulada por vias de sinalização que, em ambiente ácido, tornam a energia celular mais estável, garantindo crescimento mesmo sob estresse.
Quando os pesquisadores impediram a fusão mitocondrial, as células perderam a capacidade de proliferar, confirmando que o pH baixo é parte ativa da estratégia de sobrevivência do câncer.
Implicações para o tratamento do câncer
Os achados sugerem novas abordagens terapêuticas:
- Neutralização do pH do tumor, dificultando a adaptação das células cancerígenas.
- Bloqueio da fusão mitocondrial, limitando a produção de energia em condições extremas.
- Desenvolvimento de medicamentos específicos que atuem preferencialmente em ambientes ácidos, poupando células saudáveis.
Embora o estudo tenha sido realizado no câncer de pâncreas, os pesquisadores acreditam que outros tipos de tumor, como mama, fígado e pulmão, podem usar mecanismos similares.
A pesquisa evidencia que a reprogramação metabólica induzida pela acidez fortalece células tumorais, oferecendo resistência e flexibilidade. Combater o microambiente ácido pode ser uma estratégia promissora para enfraquecer tumores sem prejudicar células normais, abrindo novas possibilidades na luta contra o câncer.