O câncer está deixando de ser apenas uma preocupação crescente para se tornar uma realidade dominante na mortalidade brasileira. Um levantamento recente do Observatório de Oncologia mostra que, em 670 municípios do país, os tumores malignos já são a principal causa de morte, ultrapassando as doenças cardiovasculares, que por décadas ocuparam o primeiro lugar nas estatísticas.
A análise, baseada em 26 anos de registros oficiais de saúde, revela um quadro preocupante: as mortes provocadas por diferentes tipos de câncer aumentaram mais de 120% entre 1998 e 2023, demonstrando que o problema vem se expandindo em ritmo acelerado e constante.
Crescimento contínuo e geograficamente amplo
O avanço da doença não se limita às grandes capitais. Cidades médias e pequenas também vêm registrando aumento expressivo de óbitos por câncer, o que indica maior disseminação da doença em todo o território nacional.
Em 2015, o câncer liderava as estatísticas de mortalidade em 516 municípios. Hoje, o número já passa de 670, o que representa 30% de crescimento em menos de uma década, cerca de 17 novos municípios por ano com o câncer como principal causa de morte.
Projeções indicam mudança histórica até 2029

As previsões mais recentes sugerem que o câncer poderá ultrapassar as doenças do coração como principal causa de morte no Brasil até 2029.
Segundo a projeção feita com o software Tableau, a diferença entre as duas causas vem diminuindo ano a ano.
- Em 2028, estima-se que a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares será de 117 por 100 mil habitantes, contra 114 por câncer.
- Já em 2029, a inversão deve ocorrer: 115 mortes por câncer para 113 por problemas cardíacos.
Essa virada marca uma transição epidemiológica que muda o perfil de saúde do país — exigindo novos esforços em prevenção, rastreamento e tratamento.
Fatores que impulsionam o aumento
Entre os principais motivos do crescimento das mortes por câncer, destacam-se:
- Envelhecimento da população, com mais pessoas vivendo o suficiente para desenvolver tumores;
- Hábitos de vida prejudiciais, como tabagismo, consumo de álcool, dieta pobre em fibras e sedentarismo;
- Exposição a poluentes ambientais e substâncias químicas nocivas;
- Atraso no diagnóstico e dificuldade de acesso a tratamentos modernos em algumas regiões.
Esses fatores, combinados, explicam por que mesmo com avanços na medicina, o número de casos fatais continua subindo.
Um desafio urgente de saúde pública
O avanço do câncer representa um grande desafio nacional, exigindo políticas públicas que priorizem prevenção, educação em saúde e diagnóstico precoce. O fortalecimento da rede oncológica, com maior acesso a exames e terapias inovadoras, será fundamental para conter o avanço da doença e reduzir as desigualdades regionais no tratamento.
Se nada for feito, o cenário previsto para o final da década pode se concretizar, com o câncer se tornando a principal causa de morte no Brasil, afetando cada vez mais famílias e sistemas de saúde locais.

