Campo magnético da Terra surpreende ao exibir deformações raras iguais às vistas no Sol

Zigue-zagues revelam interação inédita entre plasma solar e terrestre (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Zigue-zagues revelam interação inédita entre plasma solar e terrestre (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

Pesquisadores identificaram dobras em zigue-zague no campo magnético da Terra, um padrão raro que redefine como entendemos a circulação de partículas carregadas ao redor do planeta. A revelação transforma a magnetosfera em um laboratório natural para investigar processos que, até então, só eram analisados em missões espaciais próximas ao Sol.

Logo de início, um ponto chamou atenção: a presença de plasma com origem solar misturado ao plasma terrestre, formando arranjos dinâmicos capazes de torcer, romper e reconectar linhas magnéticas. Isso cria as chamadas magnetic switchbacks, deformações em formato de “S”. Em resumo, os dados mostram:

  • Partículas solares conseguem penetrar mais profundamente na magnetosfera do que se imaginava;
  • A mistura de plasmas cria condições perfeitas para reconexões magnéticas rápidas;
  • As deformações lembram padrões detectados em missões que estudam o Sol.

Quando a magnetosfera funciona como um espelho do Sol

Nova deformação magnética pode aprimorar previsões de tempestades espaciais (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)
Nova deformação magnética pode aprimorar previsões de tempestades espaciais (Imagem: Gerada por IA/ Gemini)

As análises da missão Magnetospheric Multiscale (MMS) revelaram que o comportamento magnético terrestre, em determinados pontos, replica processos vistos na coroa solar. Isso ocorre quando linhas de campo abertas e fechadas interagem, gerando ondulações abruptas que se propagam como pequenas torções no plasma. Embora o fenômeno seja conhecido no estudo dos ventos solares, sua presença próxima à Terra surpreendeu pela clareza e pela intensidade registrada.

Além disso, essa similitude permite investigar, sem sair do planeta, mecanismos que impulsionam o vento solar e fragmentam as linhas magnéticas no ambiente estelar. A Universidade de New Hampshire, responsável pelo estudo publicado no Journal of Geophysical Research: Space Physics, destaca que a descoberta abre portas para observações contínuas, detalhadas e seguras, algo difícil de obter nas regiões extremas do Sol.

Por que esse achado importa para o futuro da exploração espacial?

Compreender como diferentes plasmas interagem dentro do campo magnético terrestre é essencial para prever tempestades geomagnéticas, fenômenos capazes de afetar satélites, sistemas elétricos e comunicações globais. As novas evidências ajudam a modelar o comportamento dessas regiões instáveis e, por consequência, aprimoram ferramentas de monitoramento espacial.

Ao revelar que a magnetosfera abriga estruturas antes consideradas exclusivas do Sol, o estudo aponta que a Terra possui muito mais camadas de complexidade do que se imaginava e cada uma delas pode contribuir para proteger tecnologias essenciais do nosso dia a dia.

Leandro Sinis é biólogo, formado pela UFRJ, e atua como divulgador científico. Apaixonado por ciência e educação, busca tornar o conhecimento acessível de forma clara e responsável.