O café é mais do que uma bebida: é um ritual diário para milhões de brasileiros. No entanto, nem todas as formas de preparo oferecem os mesmos benefícios à saúde. Um recente conjunto de pesquisas europeias comparou o café coado e o café solúvel (instantâneo), e os resultados chamaram atenção: a versão instantânea pode conter maiores quantidades de acrilamida, uma substância considerada potencialmente cancerígena.
Substância que precisa de atenção
A acrilamida é formada naturalmente quando alimentos ricos em amido são expostos a altas temperaturas, processo típico da torrefação dos grãos. Segundo a Universidade de Cracóvia, o café instantâneo apresentou, em média, o dobro dessa substância em relação ao café moído tradicional.
Essa molécula também está presente em alimentos como batatas fritas e torradas e, em estudos laboratoriais, demonstrou causar danos celulares e mutações genéticas em animais.
Embora a relação direta com câncer em humanos ainda não esteja comprovada, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) classifica a acrilamida como “provavelmente cancerígena”, o que justifica a recomendação de moderação no consumo.
Por que o café coado leva vantagem

O café coado, além de mais tradicional, passa por um processo de filtragem que reduz o acúmulo de compostos produzidos durante a torra. Isso o torna menos propenso a concentrar substâncias indesejadas, ao mesmo tempo em que preserva compostos benéficos, como polifenóis e melanoidinas, conhecidos por suas ações antioxidantes e protetoras das células.
Pesquisas realizadas na Noruega indicam que quem consome até quatro xícaras diárias de café filtrado apresenta menor risco de doenças cardiovasculares. Já estudos italianos sugerem que compostos presentes no café expresso podem até proteger o cérebro de alterações associadas ao Alzheimer, embora essas descobertas ainda estejam em fase experimental.
E o café solúvel? Tem algo de bom?
Apesar do alerta, o café instantâneo não deve ser visto como vilão. Ele continua sendo fonte de antioxidantes e de compostos que estimulam a concentração, o metabolismo e a disposição. O problema está no excesso e na procedência: versões muito torradas ou de baixa qualidade tendem a acumular mais acrilamida.
Para um consumo equilibrado, vale seguir algumas orientações simples:
- Prefira café coado ou expresso sempre que possível;
- Evite marcas que utilizem torrefação muito escura
- Limite o consumo diário a três ou quatro xícaras;
- Escolha produtos com origem e processos declarados no rótulo.
O segredo está no equilíbrio
Enquanto a ciência continua investigando os efeitos da acrilamida em humanos, o consenso entre especialistas é claro: moderação é o ponto-chave. O café, em suas diversas formas, é uma das bebidas mais estudadas do mundo, e a maioria das evidências aponta que seus benefícios superam os riscos, especialmente quando preparado e consumido de forma consciente.
Portanto, entre o café coado e o solúvel, a escolha mais saudável ainda é a versão filtrada, que combina sabor, tradição e segurança. Mas, como em quase tudo na nutrição, o equilíbrio continua sendo o melhor ingrediente para começar bem o dia.

