Os cães sempre foram reconhecidos por sua lealdade e sensibilidade, mas novas evidências científicas mostram que eles podem ir muito além do companheirismo. Um estudo recente revelou que cães treinados conseguem detectar câncer de bexiga em outros cães apenas pelo cheiro da urina, abrindo caminho para métodos diagnósticos mais rápidos, acessíveis e menos invasivos na medicina veterinária.
Um olfato capaz de identificar doenças graves
A pesquisa foi publicada na revista científica Veterinary and Comparative Oncology, no estudo intitulado “Canine detection of canine urothelial carcinoma via urine odour”, conduzido por Nicola Rooney, Isabelle Desmas-Bazelle e colaboradores da Universidade de Bristol.
O trabalho demonstrou que cães previamente treinados para detectar câncer em humanos conseguiram identificar carcinoma urotelial canino, o tipo mais comum de câncer de bexiga em cães, apenas analisando o odor da urina.
Resultados impressionantes chamam atenção
Os dados revelaram níveis elevados de precisão:
- Sensibilidade de até 90%, identificando corretamente amostras com câncer
- Especificidade de até 95%, ignorando amostras saudáveis
Esses números colocam o olfato canino em nível comparável ou superior a testes laboratoriais usados atualmente, especialmente em triagens iniciais.
Por que o câncer de bexiga em cães é difícil de diagnosticar?
O carcinoma urotelial costuma apresentar sintomas parecidos com infecções urinárias comuns, como dor ao urinar ou presença de sangue na urina. Além disso, métodos tradicionais apresentam limitações importantes:
- Coleta invasiva pode aumentar o risco de disseminação do tumor
- Biópsias são caras e demoradas
- O diagnóstico definitivo costuma ocorrer em estágios avançados
Por isso, um método rápido, não invasivo e de baixo custo pode transformar o cuidado veterinário.
Como os cães foram treinados para a detecção
Três cães participaram do estudo: dois Cocker Spaniel e um Labrador. Eles foram treinados para identificar apenas o odor associado ao câncer em amostras de urina dispostas em suportes metálicos. O comportamento indicativo incluía sentar, olhar fixamente ou permanecer imóvel diante da amostra positiva.
O treinamento reforçou não apenas a detecção correta, mas também a capacidade de ignorar amostras negativas, garantindo confiabilidade ao processo.
O que explica essa habilidade extraordinária?
Os pesquisadores acreditam que as células cancerígenas liberam compostos orgânicos voláteis específicos, criando uma assinatura olfativa única. Esses compostos são imperceptíveis para humanos, mas facilmente detectáveis pelo sistema olfativo altamente especializado dos cães.
Impacto futuro na medicina veterinária
Além de beneficiar cães, o estudo reforça o potencial de desenvolver tecnologias inspiradas no olfato canino, como narizes eletrônicos, para diagnóstico precoce de doenças.
Mais do que uma curiosidade científica, a descoberta representa um avanço concreto rumo a diagnósticos mais humanos, rápidos e eficazes para os animais.
