Cabelos brancos indicam ativação natural de proteção anticâncer, revela estudo

Estudo revela que fios brancos protegem contra o melanoma. (Foto: Getty Images via Canva)
Estudo revela que fios brancos protegem contra o melanoma. (Foto: Getty Images via Canva)

O surgimento dos fios brancos sempre foi associado ao passar do tempo ou ao estresse, mas novas evidências mostram que o processo pode ter um papel muito mais importante. 

Pesquisadores da Universidade de Tóquio, em um estudo publicado na Nature Cell Biology, sugerem que o embranquecimento capilar pode representar uma resposta protetora do organismo contra o câncer de pele, especialmente o melanoma.

Corpo escolhe parar de pigmentar para se proteger

A cor dos cabelos é determinada pela melanina, substância produzida pelas células-tronco de melanócitos (McSCs). Com o avanço da idade ou devido à exposição constante a agentes externos, como radiação ultravioleta e poluição, essas células sofrem danos genéticos.

Ao detectar lesões no DNA, o corpo aciona o gene p53, que bloqueia a multiplicação de células defeituosas e impede que elas se tornem perigosas. Como consequência, essas células deixam de fabricar melanina, e os fios perdem a cor. Embora o resultado visível seja o cabelo branco, internamente ocorre uma importante defesa contra o desenvolvimento de tumores.

O paradoxo entre juventude e segurança

Cabelos brancos surgem quando o corpo ativa o gene protetor p53. (Foto: Pexels via Canva)
Cabelos brancos surgem quando o corpo ativa o gene protetor p53. (Foto: Pexels via Canva)

Nos testes com camundongos, os cientistas perceberam que os animais expostos à radiação tiveram pelo embranquecido, mas apresentaram menor propensão a tumores. Isso indica que, ao deixar de produzir pigmento, o organismo interrompe a atividade de células que poderiam sofrer mutações malignas.

Por outro lado, quando a pele foi estimulada por substâncias químicas e radiação intensa, o corpo aumentou a produção de uma proteína chamada KITL, responsável por manter as células pigmentadas e jovens. Nesse cenário, o cabelo manteve a cor, mas houve crescimento do risco de mutações, mostrando que o corpo precisa equilibrar entre preservar a aparência e garantir a segurança celular.

O envelhecimento como uma forma de defesa natural

Os cientistas chamam esse fenômeno de “antagonismo fenotípico”, uma espécie de equilíbrio biológico: os mesmos mecanismos que evitam o câncer também favorecem o envelhecimento. Com o tempo, os níveis de KITL caem naturalmente, o que explica por que os cabelos embranquecem com a idade, e como esse processo está ligado à redução de riscos genéticos.

O aparecimento dos cabelos brancos pode, portanto, indicar que o sistema de controle celular está em pleno funcionamento, bloqueando células danificadas antes que se tornem malignas. Quando essa capacidade falha, o corpo perde parte da sua proteção contra o melanoma e outros tipos de câncer de pele.

Embora não represente imunidade, o estudo reforça que envelhecer faz parte de um processo de autoproteção. Compreender esses mecanismos pode abrir caminho para novas estratégias de prevenção e terapias celulares voltadas à manutenção do equilíbrio entre renovação e segurança do organismo.

Rafaela Lucena é farmacêutica, formada pela UNIG, e divulgadora científica. Com foco em saúde e bem-estar, trabalha para levar informação confiável e acessível ao público de forma clara e responsável.